segunda-feira, 26 de julho de 2010

Dia do Escritor Atrasado

Em homenagem ao Dia do Escritor, que foi ontem (e, claro, celebrei produzindo ficção), deixo o professor Stephen Koch, que sempre reservava uma parte de cada workshop para alertar seus alunos sobre o perigo de seguir a vocação literária, das dolorosas recusas, do pouco ou nenhum dinheiro e da probabilidade de fracasso, vendo a turma inteira murchar na cadeira. Até que um aluno corajoso o encarou em uma conversa particular:

"Professor Koch, há algo que o senhor parece não entender. Eu sei que sua intenção é boa, mas esse negócio de que nunca vamos chegar a lugar nenhum, que nunca vamos ganhar um tostão, que ninguém nunca vai nos dar a mínima - o senhor acha que é novidade para nós? Acha que nunca ouvimos falar disso? Todos nós temos um tio lá fora que vive nos dizendo exatamente as mesmas coisas, o tempo todo. Talvez o senhor saiba mais e se expresse melhor, mas, basicamente, está nos dizendo o mesmo que esse tio nos diz. Ouvimos isso desde o dia em que lemos aquele livro que nos empolgou e nos fez querer ser escritores. Todos nós temos alguém que não para de repetir: 'Esqueça, não vai dar certo, você vai fracassar'. O senhor acha que ninguém nos diz como é difícil? Que ninguém nos previne do fracasso? Todo o mundo faz isso. Precisamos é de alguém, de uma só pessoa, talvez o senhor mesmo, que não nos diga isso, alguém que, pelo menos uma vez, nos diga que é difícil, mas não impossível. Alguém que diga 'vá em frente'. Que diga que é ótimo fazer isso, que é a melhor coisa a fazer, que não há nada melhor, que nos diga para tomar coragem e fazer. Alguém que não olhe para nós pensando que somos um bando de pirralhos fantasistas e autocomplacentes, que devíamos jogar a toalha, sermos simplesmente bons moços, estudar direito e crescer. O senhor receia que estejamos iludidos? Tudo bem, estamos iludidos. Mas faça um favor: deixe-nos iludidos, porque nós vamos continuar."

Enquanto isso, estreando erva nova e tomando um drink, seguimos na luta.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Dia de Saramago

Veja que interessante. O plano para hoje, seguindo o roteiro de leitura estabelecido meses atrás, e agora que terminei o
clássico maior de Chandler - grande livro, aliás -, era iniciar meu primeiro Saramago, que na verdade já está na estante há vários natais. Então pensei em preparar meu espírito, relendo as reportagens em cima da mesa e abaixo da minha pequena biblioteca, e descobri em seu blog que todo dia 18, durante nove meses, é dia de Saramago.

Hoje é dia 19, mas acho que ele não ia se importar muito com isso.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Dia Mundial do Rock

Hoje é Dia Mundial do Rock. Paradoxalmente, aqui no Brasil também é dia das duplas sertanejas (pelo menos era quando o Guia dos Curiosos foi originalmente publicado). Aí, talvez pensando na Resistência, sobre a qual sempre troco missivas eletrônicas com o Marcelo, fui ouvir as músicas de meu camarada Daniel Ferrera - já que hoje também é dia do sertanejo, vale a dica), e não é que o cara canta bem mesmo?

De qualquer forma, para você que pretende ainda estar sentindo arrepios ao ouvir guitarras distorcidas quando chegar aos 80 anos, aumente o som.

Enquando penso em republicar alguns contos do Distantes Trovões (agora que aprendi a colocar links, podia até colocar trilha para os textos), seguimos resistindo. Acreditando, perseverando, semeando, arando a terra. Subindo a montanha. Como diz minha tchutchuka, it's a long way to the top.

sábado, 10 de julho de 2010

Conselho Literário

Dicas do Tio Assis:

1. Ler apenas quem escreve melhor do que nós.

2. Tentar descobrir nossa "medida", isto é: o meio caminho ideal entre ser explícito e ser obscuro. Quem descobre a medida, como Hemingway descobriu, ganha o Nobel.

3. Ler, ler muito. Escrever, escrever muito. Todos os dias.

4. Escutar os outros sobre nossos próprios textos. Mas esses outros precisam ter duas qualidades complementares: a) competência para análise de textos literários; b) sinceridade. É raríssimo encontrar pessoas com ambas qualidades.

5. Escrever aquilo que se gosta de ler. Se gostamos de textos simples, por que escrevermos complicado?

6. Ter sempre um caderno de notas no bolso, ou algo semelhante. Ele deve ficar à nossa cabeceira, à noite. As idéias nos alcançam quando menos esperamos.

7. Saber que o sucesso e a qualidade literária pertencem a universos diferentes.

8. Fugir da vida literária; isso só desintegra o fígado e cria inimigos, além de ser uma colossal perda de tempo.

9. Criar espaços (emocionais, físicos, cronológicos) para exercitar a literatura, mesmo que isso signifique abdicar de coisas aparentemente necessárias.

10. Pensar como escritor, isto é, conotativamente. Deixar o pensamento dedutivo apenas para quando estivermos estruturando nosso romance. No plano textual, usar de preferência conjunções coordenativas, em vez das subordinativas.

Em tempo: você aí, que não bagunçava tanto na 7ª série, lembra a diferença entre coordenativas e subordinativas?