terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Um Caprica e as Sombras da Noite

Não tenho bem certeza, mas acho que foi a partir da 1 e meia da tarde de hoje (o que talvez explique o fato de eu nunca ter gostado muito de levantar cedo), há exatos 33 anos, que este caprica veio ao mundo. Como há pouco estava falando com meu fiel comparsa de Resistência sobre ser obstinado, e que se não tivermos disciplina & foco não vamos atingir nossas metas – como diria o Claudiomiro - nével, deixo uma das melhores introduções de livro que já li, aqui numa tradução não muito fiel, da coletânea de contos Sombras da Noite, de Stephen King. Uma pequena aula sobre o ofício, escrita por John D. Maconald:

“Se você quer escrever, escreva.”
A única maneira de aprender a escrever é escrevendo. Stephen King sempre quis escrever, e escreve.
Assim como escreveu Carrie, a estranha, A hora do vampiro e O iluminado, e os ótimos contos que você vai ler neste livro, e um número estupendo de outras histórias, livros, fragmentos, poemas, ensaios e outros escritos inclassificáveis, a maioria deles insignificantes demais para serem publicados.
Porque é assim que se faz.
Porque não há outro jeito. Nenhum outro jeito.
A dedicação compulsiva quase chega a ser suficiente. Mas não basta. Você precisa ter gula pelas palavras. Ser glutão. Precisa querer rolar nelas. Precisa ler milhares de palavras escritas por outras pessoas.
Você lê tudo com uma inveja que o consome, ou com um tedioso desprezo.
E a maior parte desse desprezo vai para as pessoas que disfarçam a falta de talento com palavras difíceis, estruturas de frases dignas do alemão, símbolos que saltam aos olhos e nenhum senso de narrativa, ritmo ou construção de personagem.
Então você tem que se conhecer tão bem que comece a conhecer outras pessoas. Um pedaço de nós está em cada pessoa que venhamos a encontrar.

Muito bem, então. Uma extraordinária dedicação, mais o amor pelas palavras, mais a empatia, e deste conjunto pode advir, com muito esforço, alguma objetividade.
Nunca a objetividade total.

Neste momento frágil do tempo, estou datilografando essas palavras em minha triste máquina, na sétima linha da segunda página desta introdução, sabendo com exatidão qual o tom e significado que procuro, mas sem qualquer certeza de que os esteja alcançando.
A objetividade é conquistada tão dolorosa e lentamente.
Dedicação, o tesão pelas palavras, e empatia resultam em objetividade crescente, e em seguida vem o quê?
A história. A história. Diabos, a história!
A história é algo que acontece a uma pessoa por quem você passou a se importar. Pode acontecer em qualquer dimensão – física, mental, espiritual – e em combinações dessas dimensões.
Sem a intromissão do autor.
A intromissão do autor é: “Meu Deus, mamãe, veja só como estou escrevendo bonito!”
Um outro tipo de intromissão é uma coisa grotesca. Eis uma das minhas preferidas, retirada de um dos grandes best-sellers do ano passado: “Seus olhos escorregaram pela frente do vestido dela.”
A intromissão do autor é uma frase tão inepta que o leitor subitamente se dá conta de que está lendo, e sai da história. É levado, pelo choque, para fora da história.
Uma outra intromissão do autor é a pequena aula inserida na narrativa. Esse é um de meus defeitos mais graves.
Uma imagem pode ser criada de forma elegante e inesperada, e mesmo assim não quebrar o encanto.
Ótimo. Parece tão simples. Exatamente como neurocirurgia. A faca tem um gume. Você segura desse jeito. E corta.

Uma última palavra.
Stephen King não escreve para agradar você. Escreve para agradar a si mesmo. Eu escrevo para agradar a mim mesmo. Quando isso acontece, você também vai gostar da obra. Esses contos agradaram a Stephen King e agradaram a mim.

Se você leu toda essa introdução, é porque dispõe de bastante tempo. Poderia estar lendo os contos de Stephen King.

6 comentários:

  1. Parabéns pelos tlinta e tlês!
    Ich bielich!

    ResponderExcluir
  2. Caro brve heart;
    Crime e Castigo próximo do fim inevitável. Raskolnikov consumido pelo tormento. Terminarei no prazo. Sobre o post; particularmente eu não gosto do Stephen King e gosto dos escritores que escondem " a falta de talento com palavras difíceis, estruturas de frases dignas do alemão, símbolos que saltam aos olhos." Me gusta la Intelligentsia!
    Aquele abraço

    em breve publicarei algo, está no forno. Ainda temos aquele café russo pela frente.

    ResponderExcluir
  3. Sim, café russo no aguardo. Falando nisso, como é a história do pai da Sonia arruinado na história do Dosta?

    Quanto ao King, das novelas que li, ele começa muito bem, mas lá perto do fim a coisa começa a cair. De qualquer forma, o texto que postei não é dele, mas do John D. MacDonald, que foi o cara cuja novela The Executioners foi adaptada para o filme Cabo do Medo.

    Abraços, hoje um pouco tristes porque mataram a Renee e o Jack ficou viúvo. Oh vida.

    ResponderExcluir
  4. Responderei por e-mail desenvolvendo a idéia.

    ResponderExcluir
  5. Beleza, estou no aguardo.

    Abraços com café & chantilly, uma di-lícia!

    ResponderExcluir