sábado, 31 de março de 2012

Millôr Fernandes & Os Bons Tijolos

− O que move um cara, durante 43 anos, das 7 da manhã até às 8 da noite, enquanto os outros fazem surf etc., o que faz com que este cara escreva? Que tipo de obsessão é essa?

− Não, mas peraí! Primeiro, não é obsessão, é profissão. Como os outros ganham a vida no mercado financeiro, o português ganha a vida no seu armazém, eu estou ganhando a minha vida. Exatamente: eu estou ganhando a minha vida. Tem aqueles que ganham a vida dignamente, e os que ganham indignamente. Eu estou procurando vender um produto. É aquela história que a gente já falou, a história do bom tijolo. Eu estou fazendo o meu tijolo, e só entrego o que acho que está bom. Pode até estar ruim, mas eu não estou achando que está ruim, não. Além disso, não foram 43 anos confinados. Enquanto isso, graças ao bom Deus, eu tive enormes paixões, eu namorei as moças, eu viajei, eu fui e voltei, eu corri riscos, tive medos e muitas alegrias. Tudo isso ainda me dá o lucro marginal de estar aqui com vocês: oportunidade que eu obtive com o meu trabalho, na minha vida.

Millôr Fernandes, em entrevista a revista Oitenta, da L&PM, setembro de 1981.

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