segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Livro Novo (A Busca Continua)


Vamos tentar de novo.

De novo tive uma ideia muito boa hoje.

E de novo não anotei.

Talvez – provavelmente – nem fosse tudo isso, mas de novo escrevo. E de novo olho para a página em branco do word, que me olha de volta, e nada acontece. Começo a escrever sem ter a menor ideia de para onde o texto vai, muito menos para onde vai este livro novo que estou buscando, e sempre foge na última hora. Tem um diretor indiano que disse que faz filmes assim, que não tem a menor ideia do que vai acontecer, ou o que seus atores devem fazer, quando começa a filmar, mas se parar de escrever este texto sem assunto, ou talvez o assunto seja a falta de assunto, mais uma ideia vai pela janela. Personagem, preciso de um personagem. Homem, suponho, mas por que não pode ser uma mulher? Comecei a escrever a história da Isis, publiquei alguns contos aqui anos atrás, e parei, me disseram para continuar a história, para terminar. Mas talvez já tenha terminado, e nem sei se ainda quero falar de Isis, anos depois.

Sei que hoje entreguei meu portfolio para a teacher Carmem Castro, depois da prova, e vi o quanto preciso trabalhar, produzir, escrever todo dia, ler todo dia – leia mais! – para chegar onde quero chegar. Talvez já tenha chegado onde queira, que é exatamente estar escrevendo em uma tarde de segunda-feira, dizem que o que a gente faz na segunda faz a semana inteira – e onde afinal está este personagem, cadê o enredo? Talvez pudesse narrar a busca de uma narrativa, mas metalinguagens não costumam agradar quem não é teórico ou escreve ou pretende-se esperto. Gosto de metalinguagens, so what? Será que mais alguém que me lê gosta? E agora, o que faço com este texto? Para onde ele vai, para onde eu vou? Continuar escrevendo. Se estou em frente a um monitor e um teclado, algo deve acontecer. Veja, algo deve acontecer: a coisa ameaça aparecer. E então some.

Dizem que história a gente não inventa, a gente descobre. Ela já existe, temos apenas que encontrá-la. Onde está você, História, onde está você, Personagem? Silêncio. Mas pelo menos continuo caminhando, abrindo espaço nesta floresta de palavras até que a luz apareça. Ela há de aparecer, tenho fé. Tenho esperança, sim, ela há de aparecer. Enquanto isso, talvez leia o Bibbi Bokken, que mademoiselle Luciana Kellermann me disse que está cheio de metalinguagens. Devo uma reparação ao Jostein Gaarder por ter trocado seu livro no Skoob sem ler. Ah, tu não leu? Não li e daí? Pelo menos li o livro que me deram em troca, fui deixando para depois – falando em procrastinação – e o tempo de Sofia passou. Novas leituras, novas urgências. Será que alguém vai ler um texto deste tamanho no computer? Não importa, como disse Juan Carlos Onetti, em seu A Vida Breve: não posso obrigar você a continuar me lendo, mas você não pode me impedir de continuar escrevendo.  Então, escrevo. Daqui a pouco – espero – algo acontece.

PS – O nome do cineasta indiano que não consegui lembrar no começo deste texto é Shekhar Kapur. 

3 comentários:

  1. Ok! Pois, não podemos controlar o leitor, muito menos agradá-lo, tentar já é suicídio e metalinguagem é uma técnica para soltar os dedos, como tantas outras que existem por aí. Sei lá, tenho a impressão de que seu livro está surgindo e de que o protagonista, andrógino porque não se sabe (talvez nem seja necessário saber) se é homem ou mulher. Por certo é um ser humano, ou seria um ET fantasiado de gente? Não sei, continuo pensando nele numa praia, ou numa casa com vista para o mar, um apartamento talvez, um escritor obcecado (será assim que se escreve, com 'ce'?) pela História que não se mostra sem o véu. História pudica essa, há que saber conquistar. Eu sugeriria um jantar à luz de velas, vinho tinto, 'na madrugada a vitrola rolando um blues, tocando BB King sem parar...", coisa mais clichê! Há que se pensar numa História mais atraente, e nada real, porque a realidade é história de terror. Grande abraço!

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  2. Ah, li a Sofia, há muito tempo atrás...

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    1. Oi, Helena.

      Pois sim, a história está surgindo, o personagem também. Ele pode estar em um apartamento aí na Alemanha ou aqui em Porto Alegre. Praia? Não tinha pensado, mas talvez esteja tomando um chimarrão vendo as ondas chegarem até perto de si. Ele também procura a sua história. Ele também quer ver até onde as ondas vêm, para onde elas vão. Por enquanto, ele está parado e neste exato momento em que escrevo, descobri agora, ele está sentado na beira da praia tomando um chimas. O que ele vai fazer depois? Não sei e ele – tenho certeza – também não sabe. Quando ele decidir, vai me contar. Enquanto isso, e enquanto ele se distrai, posso fazer eu mesmo um chimarrão e ler. Ler e mergulhar nas palavras, já que ele não quer mergulhar no mar – mas o mais provável é que ele saia de lá em breve. Andrógino? Talvez, isso também rende pano pra manga. Um personagem que é, mas não é, que quer, mas não quer. Que é, mas podia não ter sido. Ou não é, mas podia ter sido. Encontros e desencontros da vida.

      Obrigado pela contribuição. Obcecado é com “c” mesmo, porque vem de “cego” (e obcecados ficamos cegos). E a Sofia, que é um bom nome de personagem (taí, um personagem com o nome de Sofia...) ficou para trás, mas Bibi Bokken talvez me veja.

      Abraços e escrevamos!

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