sexta-feira, 6 de junho de 2014

Piano Para Pequena Clara – Dia 105


6 de junho de 2014

21:30

A porta fecha mais cedo hoje. Quer dizer, eu fechei mais cedo. Escrevo. Com a porta fechada. Pensei em Marcos, o garotinho que era irmão de Clara, não assumido, suponho, filho de Claudius, o Dr. Abusador. Filho de Lara.

Lara, a gostosinha.

Lara, a vagabunda.

Lara, irmã de Maria.

A mãe.

Acho que Marcos tentou defender Clara de Claudius. Talvez já tenha escrito isso. Queria apenas escrever esta história do começo ao fim, de uma forma que ficasse linear, tipo começo-meio-e-fim. Mas de alguma forma, com alguma mágica que ainda não entendo, a história de Clara está saindo.

Claudius, se meus pensamentos de criadora bem pouco experiente não me enganam, era pai de Clara e de Jonas com Maria. E de Marcos com Lara. Acho que é isso. Não sei, apenas escrevo. Penso no piano, penso em como Claudius tinha ciúmes quando Maria tocava. Talvez ele pensasse que ela tocava para algum amor do passado. Mas neste momento penso que o único amor para o qual ela tocava era Clara.

O coração desta história, penso agora, é o piano.

Talvez tenha sido quebrado por Claudius. Grande coisa: ele já tinha quebrado o resto da família.

Mas um dos garotos saiu de casa. Fugiu? Fugiu e voltou? Para se vingar? De Claudius? Sou mais perguntas do que respostas, como você já percebeu. Maria Toda Perguntas.

Jade disse que queria um conselho meu. Ela não disse sobre o quê, apenas disse que queria um conselho e tão logo perguntei sobre o que era, ela sumiu no corredor. Decerto está gostando de um desses caras daqui. Estaria Jade apaixonada? Um pouco de amor neste lugar, mesmo que amor seja um verbo inconjugável para mim.

Inconjugável.

De novo me volta a ideia de que talvez eu já tenha escrito antes do acidente, ou seja lá o que for que tenha acontecido, que me trouxe a este lugar e me fez esquecer de tudo. Acho que Maria, a mãe, gostava de ler, de contar histórias. Para sua pequena Clara.

Estou cansada de escrever. Um pouco com fome também. Falei com Cris hoje. Ela parecia melhor. Pessoas melhores neste lugar que às vezes me parece o fim de tudo. O fim de uma história que ainda não sei como começa. Ou talvez seja o meio, e ainda preciso buscar o começo.

Para descobrir como ela termina.

Talvez ainda não tenha terminado.

Isso que imagino ser o fim, o fim desta família, talvez seja apenas o meio. Talvez não tenham morrido todos. Maria Tétrica. Por que a morte de todos? Não sei, apenas escrevo.

Em busca de Clara. Em busca de Maria.

Em busca de mim.

21:47

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