quarta-feira, 11 de junho de 2014

Piano Para Pequena Clara – Dia 106


11 de junho de 2014

21:53

Para você que me lê enquanto eu durmo:

É claro que fiquei uns dias sem escrever, tentei esquecer esta história – desistir mais uma vez. Mas ela me chamou e percebi que esta merda não vai me deixar em paz enquanto eu não contar a coisa toda até o fim. E o que é a coisa toda, se não me lembro, não consigo criar, e talvez não consiga criar porque não me lembro, e até onde vai este inferno, afinal de contas?

Ouço o piano.

Meu deus, como é lindo.

Tão triste que chega a me arrepiar.

Tão lindo que chega a me arrepiar.

Penso em Maria, a mãe, tocando para sua garotinha. Houve um tempo em que aquele piano contava coisas boas. E talvez contasse coisas tristes junto – escritas de uma maneira suave, não foi o que você sugeriu? Uma história pesada contada de uma maneira suave.

Estou delirando.

Maria Que Delira E Se Arrepia.

Maria que Busca. Que Vai Buscar Antes Que Morra.

Jade anda meio ansiosa. Ainda não consegui descobrir de quem ela anda gostando, e ela não me disse que era sobre isso que queria falar comigo, não com todas as letras. Mas acho que é isso. Jade Que Também Busca.

Todos buscamos, penso eu, alguma coisa aqui. Quando vou sair? você pergunta.

Sair e ir pra onde? Voltar para o quê?

Continuo escrevendo e a dor vai se espalhando, se dissolvendo. Ainda há esperança.

Claudius, Lara. Jonas e Marcos. Clara.

Maria, a mãe, tocando para aquela criança linda.

Tão linda que tenho vontade de chorar. O piano me dá vontade de chorar. E então me canso.

Me canso e desisto. De chorar. O piano vai silenciando, bem aos poucos, seu som vai ficado distante.

Longe como um sonho ruim.

E então a música acaba.

O que resta depois que a música acaba?

O que resta da pequena Clara depois que o piano adormece?

Silêncio. Neste momento penso que nada resta. E meus pensamentos, sempre emaranhados como em uma verborragia para a psicanalista, somem. Suspiro. Não sei mais o que escrever. Nunca sei, não tinha a menor ideia antes de começar, e ainda não tenho. Sarah disse que é assim mesmo. Essa história de livre associação está me enlouquecendo.

Mas, penso agora, alguma coisa dentro de mim está curando.

22:07

Um comentário:

  1. "Não sei se vivo, portanto não sei se durmo. Seria tudo um sonho? Estou confuso, Maria, mas te leio, leio o que escreves não sei nem como. Estaria eu dentro da tua cabeça? Seria eu um fruto da imaginação que esqueces todas as manhãs, a cada nova hora, a cada novo minuto cheio, a cada segundo de histórias e a mensagem que insiste em 'não sei, não sei, não sei'." Teu Leitor Mais Querido.

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