terça-feira, 1 de outubro de 2013

Livro Novo (Remando)


Tive uma ideia hoje. Talvez porque depois do stress pós-traumático e pós-prova de hoje tenha me dado aquela urgência de preciso-encontrar-meu-lugar-no-mundo, e isso geralmente significa escrever, e cimentar palavras nesta pátria e esticando as frases como um corredor que, mesmo cansado, sabe que não pode parar, decidi começar a remar logo, até porque temos mais trabalhos e mais provas, então: escrevamos agora. Tem quem diga – e eu discordo – que a etiqueta literária recomenda frases curtas, mas vejo como minhas frases e meus fluxos vêm aumentando com o passar do tempo, e acho as frases elásticas, escrevo como falo, então não há tempo a perder com um ponto final. Ponto. E vejo como minhas digressões também vêm crescendo com o passar do tempo (será coisa da idade?), lembro de Clarice Lispector, que adorava fazer isso, e disse a certa altura de A Hora da Estrela, depois de várias páginas, que a história ainda não havia começado. Se eu parar para respirar, tenho certeza, vou me perder. Mas lembrei: a história ainda não começou. A história de como criar uma história, das voltas e voltas que a gente dá antes de fazer o que tem que fazer, mas talvez isso já seja fazer a coisa em si, de alguma forma.

Esqueci de colocar a hora em que comecei a escrever este texto para cronometrar minha corrida, mas agora já era. O caso é que vinha caminhando na direção do escritório da Distant Thunders, Inc., passei por um banco em que, quando o tempo permite, sento para um chimas ou uma leitura, e pensei em um personagem, já adulto, que se recusa a crescer, tipo um adolescente de trinta e poucos anos (vejam que escrevi dois parágrafos e meio só para dizer isso). Sim, mas e depois? Depois eu não sei, mas pensei que ele poderia ser um funcionário público que ameaça explodir o lugar, porque quer sair daquela vida e não pode (hmm, a coisa está surgindo). A Rosa Monteiro disse que o artista/escritor é alguém que nunca chega realmente a crescer, sempre imerso neste mundo de fantasia, típico da criança, e temos que produzir, para justificar o nosso crescimento abortado à sociedade.

Em todo caso, neste breve espaço que foi a travessia do parágrafo anterior até este, houve um telefonema e – o que eu estava falando mesmo? Que tinha tido uma ideia para um personagem, que nem lembro mais como era, ou lembro sim, mas agora ela já não me parece tão boa. Não importa. Vamos continuar remando.

10 comentários:

  1. Oba! Uma nova história está surgindo nesta vida que urge. Temos que escrever e crescer.

    bjos

    Luciana

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. "Surgindo nesta vida que urge". Ou "urgindo nesta vida que surge"? Acho que vem coisa boa por aí, hein? :)

      Ah, adorei a parte do "temos que escrever e crescer". Acho que vou colocar isso numa placa no meu quarto.

      Bjos e obrigado pela leitura!

      Excluir
  2. Gosto muito da Monteiro, Rosa, e do Rosa também, Guimarães. Por certo aparecerão críticos deste seu experimento (não inédito) de escrever um livro novo, mas se eu fosse você, não ligava e seguia escrevendo, que é sempre melhor. Quanto ao personagem, insisto: por que cosmopolita? Por que perdido? Que tal careca e não barrigudo (dizem que 'elas' gostam mais) e não sei quem 'elas' são. Elas!!! Tempo de parar. Curiosa pelo próximo passo. Grande abraço!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Helena.

      Na verdade, antes de ler teu comentário, não tinha pensado nesses textos como experimentos, apesar de sempre ser um experimento, um exercício literário, mesmo que esteja escrevendo um simples e-mail. Aliás, principalmente um simples e-mail.

      Mas não tinha pensado nessa busca por uma história já ser uma história; na busca por um narrador já ser uma narração, já ter um narrador intrínseco. Não descrevo muito meus personagens principais (a princípio), mas por enquanto pode pensar nele como careca ou cabeludo, camisa branca ou preta. Você escolhe, se eu não disser. O leitor escreve junto com o escritor. Grande abraço!

      Excluir
  3. "...urgência de preciso-encontrar-meu-lugar-no-mundo, e isso geralmente significa escrever, e cimentar palavras nesta pátria e esticando as frases como um corredor que, mesmo cansado, sabe que não pode parar..."

    O post todo poderia ser apenas a frase acima, para ser mais preciso, neste pequeno trecho: "urgência de preciso-encontrar-meu-lugar-no-mundo, e isso geralmente significa escrever".

    preciso encontrar meu lugar no mundo e esse lugar não existe, não é real, está apenas nos livros, dentros livros, numa página rabiscada. A literatura é uma "condena", - mi condena - e redenção. Meu lugar no mundo tem um pedaço do mar de Albatroz, de praia deserta e palavras.
    Aquele abraço

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Valeu. Acho que vou colocar "urgência de preciso-encontrar-meu-lugar-no-mundo, e isso geralmente significa escrever" no mural.

      Mas se o lugar não é real, ele passa a existir conforme escrevemos. Construímos o sonho com o cimento das nossas palavras - aliás, acho que isso rende outro post.

      Hoje o Caetano me disse que viu teu blog e gostou bastante, e acrescentou: "pena que ele ainda não sabe que já é um escritor."

      Surfe em Albatroz. Escreva.

      Excluir
    2. Que coisa linda isso. Queria ter uma alma assim, tão poética como a de vocês. O nosso lugar no mundo tá guardado.

      bjs

      Excluir
    3. Mas tu TEM a alma poética. Que bom que nosso lugar no mundo tá guardado. Mas precisamos continuar lendo e escrevendo, para que esse lugar exista.

      Bjs com poesia e música para celebrar esse lugar, nossa pátria...

      Excluir
  4. Com certeza escreves como falas. Parece que te vejo falando o que leio. E o meu lugar no mundo é debaixo do meu chapéu. Bem ali. Mas esse é o meu. Um grande abraço!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Grande Angelo!

      Obrigado pelo comentário e a leitura. Na verdade, quando escrevi que "escrevo como falo" pensei em ti quando disse que me via falando essas coisas, ao me ler. Que bom. Se tu esqueceu que estava lendo, e pareceu mesmo me ouvir, então minha missão foi cumprida. Abração!

      Excluir