terça-feira, 12 de novembro de 2013

Nanowrimo - Dia 12


Talvez sejam os remédios. Dormi demais. Estou com sono. Não ia aparecer hoje.

Mas se eu não vier, talvez você não venha. Nunca mais. Podemos nos desencontrar, e esperei tanto, e espero tanto, por um novo encontro que não posso me dar esse direito. Não ia me perdoar.

Não vou me perdoar.

Nunca me perdoei.

O torpor permanece, de novo as imagens dançam feito fumaça no filtro do meu cérebro. E então somem.

Anotei hoje no caderno, antes de vir aqui, algo que talvez interesse a você. Dizia: “a mãe sai para trabalhar e o pai abusa da criança.”

E em outro trecho, no mesmo caderno: “a situação de abuso pode ter sido no armazém.”

O que isso tem a ver comigo? E isso tem a ver comigo? Era só uma história, não era? Apenas alguém que começa a escrever sem saber o que vai escrever, sem saber a história que vai contar, sem saber a narrativa, o enredo, os personagens, nada. E então apareceram o homem alto e moreno, a mulher, a irmã. E Clara. A praça. O armazém, ora aberto, ora fechado.

Deus, diga que essa história não é o que estou pensando.

É apenas uma história, fruto da minha mente. Mas então de onde vieram essas imagens? Houve realmente um incêndio? E por que de tanta chuva? Hoje não está chovendo. Teria o céu se cansado de chorar? Mais alguém que se cansou de chorar? Eu, quem sabe? Você, que talvez tenha chorado, e não me contou porque nem sabia que você existia, e a cada dia tenho que escrever para que você exista, para que fique vivo. Você também quer recuperar a sua história. Nossa história.

Pais abusadores. Mães ocupadas. Ou mães abusadoras e pais ocupados? A mãe estava no hospital. Escrevi que era depressão pós-parto, e não sei de onde saiu isso. Agora me questiono: como ela foi parar lá? E ela já saiu? Ela está viva? O mais há nesta história que vou tateando a cada noite, a cada suspiro, tateando conforme vou escrevendo, e escrevendo como quem tateia? Sarah – lembra dela? – não vai me dar as respostas. Acho que Sarah sabe, mas ouvi que os terapeutas não podem nos explicar a charada. A gente tem que chegar lá por si só. Com a mão deles agarrada na nossa, mas a conclusão tem que ser nossa. Ela sabe, ou acho que sabe, ou ela acha que sabe, da verdade. Mas não vai me contar. E já não sei se quero que conte.

Já disse que não gosto do meu primeiro nome. Você tem me acompanhado? Porque escrevo aqui toda noite, e nem sei bem porque de noite, mas tem que ser noite, e tudo para você. Lembro de ter comentado que eu tinha medo do escuro. Por quê? O que aconteceu de noite? E era noite mesmo, ou apenas escuro? Veja, estou seguindo as pistas que esta escrita me manda a cada noite, conforme vou avançando no texto. Tenho certeza que vou jogar tudo fora depois, ninguém pode ler isso aqui. Nunca. Mas talvez você queira continuar lendo. Só porque eu disse que não podia.

Se temos mesmo traços familiares, a teimosia também faz parte do seu DNA. Teimosia, perseverança, obsessão, é tudo a mesma coisa. É sempre a mesma coisa, depende do ponto de vista. Mas continuo tateando. O que aconteceu no armazém? Será que ele estava fechado porque era domingo? E se estava fechado, mesmo assim, aconteceu alguma coisa lá dentro?

Meu corpo cansa de novo. Escrever cansa. E dói. Dói palavra por palavra. Mas preciso continuar escrevendo. E mesmo que não queira, mesmo que não lembre, mesmo que queira mudar o final, mesmo que queira mudar o passado, mudar o universo, ressignificar a vida, para usar um termo que Sarah usa, mesmo assim: tenho que ir até o fim disso.

2 comentários:

  1. Está ficando bem mais… interessante! :-)

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    1. Obrigado. E tu vê, e a história saiu do nada...:)

      Abraços e até mais tarde - o Nanowrimo está funcionando maravilhosamente, porque me obriga a escrever todo dia...:)

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