sábado, 30 de novembro de 2013

Nanowrimo - Dia 30


19:35

Logo mais vai ser meia-noite.

A meia-noite o relógio vai tocar, e acredito que pela última vez.

Falta pouco agora.

Será que consigo terminar esta historinha antes disso?

Sim, eu também duvido. Talvez me mate antes, seria um final interessante. A história não foi concluída porque a autora se matou. Não muito original, mas como dizem que nada é original, acho que não tem tanto problema. Embora ache que se matar é uma desculpa para não continuar escrevendo. Imagina, escrever até depois de morta. E teria que escolher um médium bem bacana para eu ditar e ele concluir o que não tive coragem, ou tempo, ou perseverança para concluir. Concluí a vida, não a história.

Talvez um dia, especialmente se não decidir sair deste quarto antes da meia-noite e me matar hoje, eu conte a você por que todas essas brincadeiras em torno do suicídio.

A gente brinca para não olhar para dentro – ou talvez brincar seja realmente a única forma de olhar para dentro, e não se machucar. As histórias mudam, mas elas continuam histórias. Precisamos delas. Ao longo dos últimos trinta dias tenho escrito para você religiosamente todas as noites. Não sei se você ainda está aí, se realmente esteve algum dia. Mas eu preciso escrever. Mesmo que me mate, a história ainda não terminou.

Não, não consegui criar o nome do homem moreno, e já deveria ter pensado em um nome, qualquer um, inclusive um nome bobo. Deve haver um motivo para passar quase um mês pensando em um simples personagem, fruto – ou assim espero – da minha imaginação. Claro que há, mas ainda não descobri. Descobri Clara, a primeira. Depois veio Maria. Escrevi esses nomes algumas vezes ao longo das últimas semanas, e – você sabe – algumas vezes tive vontade de chorar. Algumas vezes chorei. As pessoas do lado de fora desta porta não vêm bisbilhotar o que faço aqui, e existe a possibilidade de que Sarah esteja monitorando tudo o que escrevo, mas prefiro pensar que isso é apenas Teoria da Conspiração.

De novo começo a me cansar.

Não sou mais uma garotinha.

Será que fui algum dia?

Eu não lembro. Você sabe. E deve lembrar melhor do que eu o que está escrito aí acima, ali atrás. Não importa. Quero seguir em frente, e a melhor maneira de seguir em frente é escrevendo. Chegamos ao fim do mês, amanhã é outro dia, já dizia Scarlett, e não sei o que vai acontecer. Será que descobrirei o nome desse maldito homem moreno?

Batem na porta.

Paro de escrever para ver quem é.

O mundo lá fora não vai parar para eu poder continuar escrevendo. Nunca. Antes fosse, mas não vai acontecer.

Estou irritada. Não deveria ter parado de escrever para abrir a porta.

Sim, existem coisas acontecendo aqui enquanto escrevo, ou tento escrever, e você me lê. Ou tenta me ler.

Como odeio falta de privacidade.

Talvez devesse jogar uma bomba neste lugar.

Mas não quero outro incêndio.

Hoje, não.

Estou começando a ficar com sono.

Serão os remédios?

Pensei mesmo que hoje poderia explodir esta porcaria.

Poderia mesmo.

Seria um final e tanto.

Suspiro.

Não vou conseguir terminar esta maldita história hoje.

Não posso morrer ainda, mesmo que o relógio toque, e ele vai tocar.

O mistério de Clara vai me deixar viva por mais um dia.

19:58

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