quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Nanowrimo – Dia 13



E então que estou com sono de novo.

Mas não chove.

Não chove mais.

Há quanto tempo estamos aqui?

Há quanto tempo eu estou aqui?

Neste quarto, nesta cela.

Falei com a mulher, mas não sei se é a mãe de Clara ou é a irmã da mãe. Sei que tem uma mulher (magra, também alta e de cabelos ondulados, acho que morenos) e a irmã. De quem? E como é a irmã? Não tenho certeza, mas em minha mente elas são parecidas. Ou parecem parecidas, não tenho certeza. Também por isso escrevo. Ainda não sei como é o nome da mãe. Talvez fosse Alice, mas isso também seria óbvio. Bom, mas e se for, e não for óbvio simplesmente porque é o que é? Alice, por enquanto, depois a gente troca o nome. Então temos Claudius, Alice, Clara. Não, temos que trocar os nomes. Não devem ser esses. Mas suas cores e nuances me vêm à mente, e ele ainda é alto, magro e moreno, ela é alta, magra e morena. Será que estou olhando para a mulher certa?

Vamos deixar os nomes de lado por um momento. Eles não são importantes. Talvez suas aparências físicas também não sejam. De novo, é noite e sei lá por que só escrevo de noite. Comentei em um desses últimos dias que tenho medo do escuro. Talvez por isso mesmo escreva de noite. Não para sentir mais medo, embora o medo me ronde conforme vou esticando as frases porque não sei onde elas vão me levar. O que se esconde no ponto final?

Precisamos de mais cenários para você visualizar. Temos o armazém e temos a praça. O armazém está fechado, e ninguém está na praça, porque é de noite. Será que isso é inconsciente? Escrevo de noite porque quero ver esses espaços vazios, como uma forma de apagar o passado? Então me passa pela cabeça parar de escrever para tomar um café ou comer um chocolate – mas no fundo isso é medo de seguir em frente. Acho que comentei em outro desses últimos dias que teve um incêndio e teve algo acontecendo enquanto chovia. Como disse, não me lembro mais do que escrevi, apenas flashes de memória. Assim como não lembro do que escrevi, e talvez por isso mesmo não lembre, não lembro o que vivi. Não lembro porque ou como vim parar aqui, mas cada vez que penso não lembrar, minha cabeça dói.

Será que alguém me atingiu com algo na cabeça e por isso não lembro de mais nada?

Pensar isso faz minha cabeça doer mais ainda.

Agora não sei mais se quem me sugeriu de começar a escrever para lembrar, para procurar uma história, que aos poucos vou achando que é mesmo minha, foi Sarah ou foi você. Ainda não sei o seu nome, meu irmão, e ainda não lhe disse o meu – em breve faço isso. Já disse que não gosto do meu primeiro nome. E tampouco tenho certeza se o nome de Sarah, a terapeuta, é Sarah mesmo. Se não for, a gente muda, se não gostar, a gente muda. A história é minha. E como disse, também em um desses dias perdidos do passado, ainda não tinha ideia do quão verdadeira é essa frase.

Confuso?

Eu também me perco às vezes, por isso continuo escrevendo. Olha, que homenagem à literatura e aos loucos: eu também me perco às vezes, por isso continuo escrevendo.

Esses dias lhe perguntei se era possível identificar o sexo de quem escreve a partir da forma como o texto é escrito. Em outras palavras, se você não me conhecesse, apenas me lesse, você diria que sou homem ou mulher? Você não respondeu. Claro que você já sabe. Mas e se não soubesse?
Talvez amanhã eu lhe diga o meu nome, embora você já saiba, e sei que você sabe muito mais do que diz. Por enquanto, antes de admitir em voz alta, porque você sabe que admitir em voz alta, seja o que for, é difícil para qualquer um, tenha em mente isso: não gosto do meu primeiro nome.

Sim, vou dando pistas porque vou me lembrando aos poucos. De repente, não sei, alguém realmente me atingiu na cabeça e esqueci de tudo.

Ou tive um trauma anterior a isso que já tinha me feito esquecer?

Acabo de ver uma briga com uma pá em um quarto escuro. Não sei se chovia. A única foto que me veio à mente foi essa: alguém bateu em outro alguém com uma pá, e estava escuro.

O quarto era escuro ou apenas era a noite?

Em breve saberemos.

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