domingo, 17 de novembro de 2013

Nanowrimo - Dia 17


Então  você pensou que esta história era sobre a pequena Clara e descobriu que o ponto de vista não é de um – como chamam? – Narrador Onisciente, mas de uma menina trancafiada em um quarto chamada Maria, e é essa a personagem principal. É isso? Não sei. Pode ser e pode não ser. Meu nome é Maria – quer dizer, Maria é meu primeiro nome, do qual não gosto – mas ainda estou tentando recuperar a história de Clara? Por quê, você pergunta. Não lembro nem da minha, então se eu inventar – partindo do principio que estou inventando, e não sei de onde vêm essas imagens, se observo ou apenas vejo na tela da mente –, talvez a minha história seja recuperada. Ser é ser notado, li num livro hoje. Aliás, andei folheando uns livros impressos de gente publicada, e achei este aqui tão pobrinho. Mas não sou, ou pelo menos não me considero, escritora. Apenas escrevo, essa carta única lançada ao mar, e que provavelmente ninguém lerá.

Mas sou a personagem principal? Gostei da ideia. Será que já fui a personagem principal algum dia? Principal para alguém?

Veja, algumas imagens se esfumaçam em minha mente quando penso isso, e elas vão embora tão rápidas quanto chegam, feito sonhos, e que a gente imagina terem sido bons, sente que foram bons, e tem saudades, uma saudade doída de lá – mas segundos depois de acordar, não lembramos de mais nada.

Por isso escrevo.

Preciso de Clara tanto quanto ela precisa de mim. E preciso de você, por isso escrevo noite após noite (ontem era de tarde quando escrevi, você tem razão). E talvez, pensei agora, tudo isso que parece fazer algum sentido, aos poucos, pode ser apenas um delírio. Talvez você não esteja mais aí, nem nunca esteve, e estou escrevendo para ninguém. Talvez você nem seja meu irmão, nem se chame Jonas, e eu jamais tenha tido irmão.

Pai e mãe?

De novo uma imagem fugaz, algo que não consigo acessar, aparece e some em minha memória. Não sei. Por isso escrevo. Sarah, às vezes, me deixa tão doente tentando lembrar, tentando mergulhar no fundo mais fundo de mim. Lady Sarah. Mas essa história não é sobre Sarah, a terapeuta. É sobre Clara. Ainda é sobre Clara. E talvez sobre aquela família – partindo do princípio que são uma família. Devem ser, ou por que um homem e uma mulher brincariam com uma garotinha na praça? Ainda há a questão da irmã, mas ainda não sei onde ela se encaixa. Parece-me, mas agora já não tenho certeza, que a mãe tinha ido para o hospital por depressão pós-parto. Mas Clara não era mais recém nascida. Será que ela tinha um irmão? Será que alguém foi abandonado, ou adotado, ou algo assim?

Hora de jantar. Estou mesmo com fome e você sabe que uma hora eu tenho que comer. Amanha eu continuo.

4 comentários:

  1. Por que tem de ser uma família? O homem pode estar apenas tomando conta da menina, a mulher pode ser uma vizinha e ambos podem ser apenas conhecidos da mulher que está no hospital. Vamos ver do que conseguirá lembrar até amanhã. Teu leitor.

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  2. Li alguns dias perdidos, e reli uns dois que já havia lido, e tenho duas suposições: 1. estou passando longe das reais situações e dos verdadeiros papéis dentro dessa história; 2. você não colabora muito com suas afirmações seguidas de incertezas né? ;) Mas falando sério, estou adorando esse seu jeito de apresentar uma história mostrando apenas algumas peças e nos obrigando a tirar conclusões, mesmo que erradas.
    Não sei se na sua escola os professores de educação artística ensinavam essa técnica, não sei o nome, mas lembrei disso agora, você pintava algo bem colorido num papel e depois passava nanquim por cima, esperava secar e começava a raspar com uma lâmina, formando desenhos. Me sinto raspando o nanquim do seu livro sempre que leio mais um pouco... rs.
    Acho que seu blog anda comendo comentários, então na dúvida vou te avisar lá pelo Facebook que comentei aqui.
    Até!

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    1. Bah, que show. Muito obrigado pelo comentário. E continue raspando o nanquim, vem mais por aí...:) Ah, não lembro o nome dessa técnica, mas se tu descobrir, dá o toque. Abração!

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