terça-feira, 26 de novembro de 2013

Nanowrimo - Dia 26


Você me pergunta se passo os dias esperando a noite chegar para poder escrever. Se não saio daqui nunca. Como eu disse antes, por que você pergunta coisas que não posso (ou não quero) responder? E que diferença isso faz agora? Tudo o que você precisa saber é que estou aqui agora, e se você me lê, quero crer que está aí também. A minha história não interessa. Sim, escrevo para lembrar, mas neste momento não quero olhar para dentro, nem contar o que passou, o que passa. Você quer ver o espetáculo, não quer saber dos bastidores.

Ou estou errada?

De qualquer forma, eu queria contar sobre a visão que tive ontem, de madrugada. Ou sonho, ou voz, nem sei mais, mas tem uma nova personagem nesta história. Nem tão nova, ela já estava aqui. Apenas não tinha sido batizada ainda. Enquanto escrevo meu corpo volta a pesar, não dormi direito semana passada. Digo, noite passada. Droga, já estou variando por causa do sono. Será que tomei alguma medicação? Uma medicação errada, uma medicação a mais.

Quer mesmo que eu continue com isto?

Posso parar por aqui se você já estiver com enfado de me ler. Talvez esteja.

Mas se continuar por aí, sou obrigada a escrever.

Vamos lá. Começa assim:

Lara.

O nome dela é Lara.

Nunca falei esse nome porque não tinha inventado. Ou lembrado, se você acha que esta história é mais do que realmente digo. Talvez mais do que eu realmente saiba.

Lara era a irmã. A outra mulher.

Quando escrevi “a outra mulher”, não quis dizer que ela era “a outra”. Não necessariamente. Disso ainda não sei. Sei que ela era a outra, porque a primeira mulher era a Maria. Lara era irmã de Maria? Foi Lara quem cuidou das crianças quando Maria ficou internada no hospital? Eu disse “crianças”. Afinal, Clara tinha ou não tinha um irmão? E se tinha, era um só? E se havia outro, era do mesmo casamento, ou o pai tinha uma amante? Hmm, isso faz sentido. Talvez tivesse várias e ninguém falasse nada porque ele era médico de reputação... – que se dane, era médico. Não precisava ser mais nada. Se não comentavam sobre o que acontecia dentro de sua casa, amantes seriam peixe pequeno.

Lara. Ainda não sei muito dela. Vou ter que escrever para descobrir. Sarah disse que preciso continuar escrevendo, que tenho que escrever todo dia, porque aí está minha cura. Meu corpo está incrivelmente cansado. Não dormi direito noite passada – já disse isso? Meus olhos também começam a se embriagar. E eu não bebo. Já disse que não bebo? Já disse que não gosto do meu primeiro nome? Acho que dizer que meu nome é Maria é uma forma de assumir minha identidade. Afinal, esse é meu primeiro nome. Nunca gostei, mas acho que tenho que desconstruir isso. Desconstruir é outro termo que os psicanalistas usam. Minhas pálpebras pesam. O sono aumenta. Talvez deva parar de escrever agora. E dormir. Você acha que não durmo, não é? Mas eu durmo, sim. E me alimento. E tomo banho. E às vezes, mas acho que isso você já sabe, choro escondida no canto do quarto.

Acredite, mas não dê muita bola para isso neste momento: tem uma porção de coisas sobre mim que você ignora.

3 comentários:

  1. Se eu quero saber dos bastidores, Maria? Olha, a literatura de nosso tempo tem sido uma literatura de 'bastidores'. Estou um pouco cansado de relatos do 'processo', tenho sede da história, tenho sede de histórias, mas quem sou eu para dizer-te como deves escrever a tua, não? Ou não escrevê-la. A escolha é tua. Quero ser seduzido, Maria, quero ser convencido e, mais importante, não quero ser esquecido, mas isto é difícil, pois também não almejo ser o centro de tuas atenções, aí estaria o segredo (que segue desconhecido). Queres saber, segue escrevendo como queiras, se é a tua história ou a de teus personagens, tanto faz… Quero uma história, ou várias, sim: quero o espetáculo. E por que não? Acaso não mereço? Teu Frustrado Leitor.

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    1. Não fique frustrado, Frustrado Leitor. Acredite, você está indo para onde espero que vá. A história está acontecendo, mesmo que ainda não saibas.

      Até mais tarde,

      Mary

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  2. Eu cheguei a cogitar que ela estivesse morta ou num necrotério, mas desisti da ideia pq ela se comunica com outras pessoas, toma banho, dorme, etc. Enfim, preciso continuar raspando o nanquim do seu desenho.

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