quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Nanowrimo - Dia 27


Pensei que fosse Lana, mas é Lara.

Tive que reler o que escrevi ontem para lembrar o nome da irmã.

Mas como, você pergunta, se eu disse que não lembro das coisas que escrevi na noite anterior?

Não lembro mesmo, mas estou pensando em fazer algumas anotações. Talvez um bloquinho ou uma agenda. Não lembro de nada, nisso não menti. Não que tenha mentido em outras coisas, mas suspeito que existam verdades, especialmente verdades do meu passado, o passado que foi antes de eu chegar aqui e começar a escrever esta historinha que me deram como missão criar para resgatar o que foi perdido, para as quais ainda não estou preparada.

Ou seja, continuo escrevendo para lembrar. Talvez, segundo o que imagino que Sarah pense, existam símbolos nesta história que estou criando que vêm do meu inconsciente, aliás, tudo vem do inconsciente, segundo Sigmund Sarah, e se eu conseguir juntar as pistas talvez me lembre de como vim parar aqui. Às vezes quero saber. Geralmente, não. Dói lembrar, dói escrever e dói escrever porque dói lembrar.

Você me disse que queria uma história. Talvez você tenha encomendado essa de mim, e essa é mais uma das coisas que não lembro. Não estou brincando. Realmente não lembro quase nada do que vivi antes de chegar a este quarto.

Tem coisas que sei, mas talvez ainda não seja hora de falar porque isso não tem a ver com a história, como as outras pessoas com as quais convivo e que vivem fora deste quarto, e que vivem alheias a mim enquanto fico enfurnada aqui, entocada feito alguém procurando seu cantinho na imensidão da formigueira.

Mas saiba que a maioria das pessoas de fora deste quarto usa roupas bem parecidas.

Penso no piano, mas não estou ouvindo suas teclas hoje. Penso no homem alto e moreno de cabelos lisos que está destruindo aquela família. Se você, meu interlocutor imaginário, que eu já achei que fosse meu irmão Jonas, embora eu nem lembre de ter um irmão com esse nome, sabe das coisas, responda: por que não consigo inventar um nome para esse cara? É só um nome, colocar um nome fictício em alguém fictício, não pode ser tão difícil. Veja, já temos a pequena Clara, temos Maria, temos um garoto cujo nome também não pensei ainda, e agora temos a irmã Lara.

Onde eles se cruzam? Por que afinal Maria ficou internada no hospital? Tinha pensado em depressão pós-parto, mas como disse que Clara já estava maiorzinha, não pode ser isso. Pode ter sido internada por depressão, sim, mas por que ela entrou em depressão? Talvez quando souber isso vou saber outras coisas. Imagine, ela deve ter tido algum motivo forte para entrar em depressão. Algo que aconteceu em sua casa? Algo como a ver com esse maldito moreno de cabelos lisos?

Provavelmente, mas não consigo tatear o quê. Algo que aconteceu na pracinha? Ou no armazém, que no filtro da minha mente estava sempre fechado? Talvez ele estivesse mesmo meio abandonado, mas é provável que algo aconteceu lá. Seria isso o que levou Maria a depressão? Mas se tem a ver com aquele homem, considerando que ele é médico, ele não ia se expor assim, publicamente.

A menos que não tenha sido ali que ocorreu.

Lara sabia?

Ela estava envolvida?

No quê, você me pergunta.

Quando souber isso, estaremos mais perto do fim. E vejo o relógio, que voltou a bater. Sim, estamos próximos do fim. O quão próximos? Próximos. Mas preciso que você fique aí até o fim.

Senão ambos morremos.

E ainda não está na hora de morrermos.

2 comentários:

  1. Ó Maria dos Mistérios, disseste mesmo "Maria já estava maiorzinha" ou estou começando a ter alucinações? Sim, Maria é teu primeiro nome e se é o primeiro provavelmente há um segundo e creio que me manipulaste para chegar a essa conclusão. Não sei mais se existo e tento te manipular ou se imaginas que te imagino tentando manipular-me ou se me imaginas para manipular a ti mesma, ou se ambos não existimos e somos manipulados por outros ou… Olha, Maria, se o homem de cabelos escuros não tem rosto nem nome em teus pesadelos deve haver uma razão que Sarah explique. Não sou psiquiatra e este lugar onde todos se vestem e vivem de modo parecido pode ser o próprio mundo, Maria, e aí resisto à tua tentativa de levar-me a uma óbvia conclusão. Ou será que tu não existes e esta história que pensas que é tua, de fato é minha, eu, teu leitor mais querido, que dou-te vida nestes caracteres rumo a um final desconhecido de todos nós. O que achas? Manipulações… Não há nada novo sob o sol. Por que não pede a Sarah que pesquise nos jornais mais antigos fatos envolvendo médicos e abusos, incêndios em armazéns ou em bancos ou suicídios envolvendo gás? Ou casos envolvendo Claras e Marias e Laras e... Se tua história não for fictícia, algum gancho com a realidade há de ter. Sim, falta pouco. Desejo saber o final. Um abraço!

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    1. Tu sempre me faz escrever.

      Vamos, então, aos escritos de hoje.

      Mary

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