domingo, 3 de novembro de 2013

Nanowrimo - Dia 3


De novo, você adivinhou. Eu não ia escrever hoje. Talvez seja hora de desistir. Ambos morreremos e talvez ninguém sinta falta. Mas juro que ouvi sua voz. Não conheço seu rosto, seu cheiro, o tom da sua pele. Nem sei se você é singular ou plural. Mas ouvi a sua voz: "você tem que escrever hoje". Esse talvez seja o mais perto que vou chegar de você. Por enquanto. Sei que você sabe, mesmo que eu ainda não saiba, que não vou desistir de encontrar você. Veja, você sabe, mas eu não sei. Penso em desistir, por que insistir nisso? Por que mais cinco ou dez minutos disso, se poderia sair daqui e tentar outra coisa, qualquer coisa? Mas então descubro que não posso sair daqui, deste lugar de onde escrevo, e você ainda não sabe que lugar é este porque eu ainda não contei.

Ainda não é hora.

Por isso continuo caminhando e abrindo caminho neste mar e nesta selva e nesta constelação de palavras. Hoje continuo escrevendo, mais por você do que por mim. Porque você sabe que preciso continuar aqui, e apenas intuo que você também não pode sair daí. Será tão...

O texto se perde e não consigo lembrar o que estava escrito. Talvez fosse a chave - e acabo de perdê-la. Meu deus, como sou idiota. Acabo de perder a chave que liga eu + você, a chave que ia me fazer sair desta sala.

Sala? você pergunta.

Sala, mas ainda não é hora de falarmos sobre isso. Mas a memória de eu estar falando sobre mensagens lançadas ao mar dentro de uma garrafa me volta à mente. Talvez a chave comece por aí. Talvez esse diálogo sobre você seja na verdade sobre mim, e eu estou procurando a mim mesmo. Você ainda não sabe quem sou, de onde escrevo, e eu também não sei se você é... Bem, não sei nada sobre você e nada mais justo. Não sei se você é singular ou plural - já escrevi isso? Escrevi e se perdeu. A chave está em algum lugar e se já a vi uma única vez, assim como sonhei com você, céus - vai acontecer de novo. Então eu sei que amanhã vou pensar de novo em não vir, em não escrever.

E a única coisa que peço é que sopre em meu ouvido, mande uma mensagem telepática ou simplesmente apareça em meus sonhos hoje e diga, assim baixinho, como quem não quer dizer nada, dizendo tudo, e você sabe que vou escutar: "você tem que escrever hoje." 

5 comentários:

  1. Pois é, eu te visito e tu nunca me visitas, mas não é uma cobrança não - Deus que me livre! - dos juros e das cobranças também. Pois um cara, um espanhol fez algo muito parecido a esse diálogo surreal em mil oitocentos e tanto, se não estou enganada, ficou na história como o primeiro a brigar com um de seus personagens, um que não queria morrer. Mas se pensarmos em tudo o que já foi feito em literatura, não fazemos mais nada, não é mesmo? Fazer pra quê, se tudo já foi feito? Essa teoria do fim da história ou da narrativa, ou da arte, ou do raciocínio, tudo isso me dá arrepios e puta que pariu: o que ainda estamos fazendo neste mundo? Por que seres humanos não param de nascer, se não há novo sob o sol e isso disse o cara que escreveu o Eclesiastes - dizem, eu não vi e portanto: não sei. Pois é, sigo não sabendo e se eu contar as palavras que tenho deixado aqui também não será difícil chegar às 50 mil. Sigamos! Abraço letripulista, até! P.S.: a minha história também é bem clichê, tudo o que o ser humano faz é brega, não é novo, é clichê e já disse o Chacrinha: é cópia. Sim, mas deixa pra lá esse negócio de cópia antes que me acusem de ter plagiado a frase do Velho Guerreiro. Fui!

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    1. Bom, acabo de te visitar, ler os 3 posts anteriores e deixei comentário.:) Como escrevi lá, não existe história clichê ou original, boa ou ruim, por si só. Depende do tratamento que a gente vai dar. Se tudo já foi feito, para que se importar?..hehe.

      Legal essa do livro de mil oitocentos e pouco. Não sabia. Sei do Se Um Viajante Numa Noite de Inverno, do Calvino, que é basicamente um personagem a procura de uma história. O meu é o contrário, uma história a procura de um personagem. Mas sigo escrevendo. Tenho algumas ideias de para onde vai a história, mas vamos ver se ela me leva mesmo para lá...:) Vamos ver o que ela me pede. Buenas, estou na corrida, mas mais tarde escrevo o trecho de hoje. Abração!

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    2. Pois é, obrigada pela visita (não foi cobrança não, sério, foi um comentário, só). Você sugeriu que eu publicasse a história, o texto que ainda está nascendo. Bem, exatamente por isso não me inscrevi oficialmente no Nano, pois queria focar no processo sem ter a obrigação de publicar o produto. De todo modo, ainda é cedo para pensar em publicação. Estou só brincando, brincando e escrevendo, como você. Duvido que eu consiga sentar para escrever hoje, digo: sentar mais tempo para escrever um texto mais longo do que este comentário. Segunda-feira é sempre um dia cheio mas… vejamos o que ainda poderá acontecer. Sigamos!

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  2. Vc esta se tornando um filosofo q procura respostas, e mesmo q as circunstâncias dizem para vc desisti, vc não desisti...isso é incrível

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    1. Não, a gente não pode desistir. Nunca. Seguir em frente, sempre ;)

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