domingo, 1 de dezembro de 2013

Depois do Nanowrimo – Dia 31

(pensei em recomeçar a contagem, mas vou manter a numeração para orientar melhor a leitura)


O mundo não acabou ontem, então preciso escrever.

A contagem chegou ao fim.

Mas uma nova contagem iniciou hoje, e de novo o relógio volta a andar.

Todo dia penso em nunca mais escrever.

Em sair deste quarto e voltar para o convívio com aquele bando de zumbis que ficam do lado de fora desta porta fechada. Não acho que fosse fazer muita diferença para eles. Minha autoestima de mulher nunca foi das melhores, e um dia você vai entender por quê. Nem sei se você ainda está aí, e suspeito que não, mas também suspeito que você disse “ela não vai escrever hoje”, e eu não ia mesmo. Mas mudei de ideia. Talvez você seja fruto da minha imaginação, um interlocutor imaginário que preciso acreditar que existe para eu ficar viva mais um dia. Tenho pensado em sair deste quarto, mas também não sei se posso sair.

Isto é mais profundo do que parece: não sei se posso sair deste quarto.

Talvez não saia, nem jamais me liberte desta maldita história, enquanto não descobrir o que aconteceu com Clara.

Tenho visões fugidias dos personagens. Posso estar enganada, mas hoje vi alguém que bem podia ser a irmã Lara. Ela é mais jovem do que Maria, talvez seja a irmã caçula com físico definido, talvez seja aeromoça, talvez tenha pensado em roubar o homem moreno cujo nome nunca sei de Maria. Talvez ele fosse bom, pelo menos demonstrasse amor, nem que esse amor se resumisse a sexo escondido da irmã, nas madrugadas em que ela estava dormindo sob efeitos de remédio, talvez para esquecer as surras que tomava do homem moreno.

Talvez ela ainda tivesse descoberto algo mais terrível sobre ele, e não conseguisse mais dormir, e por causa disso foi internada no hospital, e não por depressão pós-parto, até porque Clara já era grandinha.

Será que Maria sabia o que acontecia em sua própria casa? Será que ela sabia, mas fingiu não saber? Ou ela enlouqueceu, que nem eu começo a suspeitar que enlouqueci? Nesse caso, o que aconteceu com ela?

Maria tinha o mesmo nome que o meu. Meu primeiro nome, do qual nunca gostei, mas acredito que dizendo todo dia meu nome, ele começa a fazer algum sentido para mim.

E estranhamente, penso que tudo o que escrevo, de alguma forma, está interligado nisso.

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