segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Nanowrimo - Dia 4


A gente só precisa começar. O difícil é começar. Começamos, duas frases atrás. Adoeci, mas tinha que vir aqui. Vai que hoje seja o dia de você aparecer, e por um descuido meu, você fugiu... de novo? Um homem, uma mulher, a irmã, uma garotinha. Personagens desta história. O que eles fazem, onde moram? Onde você mora, se esconde, habita? Aqui nesta cela, que bem poderia ser um quarto, ou neste quarto, que bem poderia ser uma cela, me pergunto. Ninguém responde, mas você sabe: o relógio está correndo, e o relógio correndo me obriga a escrever. É possível que eu tenha esquecido alguma coisa? Inclusive esquecido do homem, da mulher, da irmã e da garotinha? Lembro que me perguntava como era esse homem, qual era sua idade, como ele se vestia, e por que ele estava deitado no sofá. Cansado de quê? Vindo de alguma missão, um assassinato ou pagamento bancário. Brincando de escrever, você disse, mas escrever é sempre brincar, sempre playground, só que levado a sério. Imagine, levar um playground a sério. Do outro lado do oceano. Sua mensagem chegou até aqui. E talvez isso que escrevo agora chegue a alguém, do outro lado do oceano, ou na esquina desta casa, ou na cela ao lado.

Você nem se importou em perguntar por que fiquei doente, mas não importa: passou. Pensemos em um armazém. Vejo um armazém, mesmo a janela estando fechada. Um armazém com caixas verdes e amarelas. Uma fruteira. Deve ser lá que você se esconde. Fugindo do quê? Ou você trabalha lá? Ou você trabalha lá E está fugindo de alguma coisa? Retomo a ideia do assassinato. Por que será que pensei nisso? Inconsciente, você dirá, sim, mas o que está por trás disso? Onde termina esta história? No armazém? Ou o armazém é o começo da história? Penso em um banco. Aí a ideia do assalto faz sentido. Clichê, você dirá, mas a vida é clichê. A vida é tão sem graça que por isso inventamos as artes. Por isso inventamos a música e a pintura, inclusive inventamos a narrativa, e estamos vivos porque nos narramos, já dizia Rosa Montero. Escrevemos o relato de nossas próprias vidas inventadas, dizia ela. Somos personagens de uma história que ninguém vai ler, como ninguém vai ler esta aqui. Só você. É por você que vim aqui hoje, e tenha certeza: é por você que estou vivo. Neste momento, você intui que sou homem, por causa do “vivo” e não “viva”. Os gêneros nos entregam. Mas isso é apenas um detalhe. Você e eu somos apenas detalhes. 
Aliás, todo detalhes.

Quarto dia de cativeiro, quarto dia de mensagens atiradas ao mar dentro de uma garrafa ou dobradas para que o pombo-correio entregue para... quem? O homem, a mulher, a irmã. Ou a garotinha? Onde vai dar tudo isso? Sei que você não sabe, ou não pode me contar, ou não vai me contar, de qualquer forma. Brinco de escrever, mas graças a isso estamos vivos. Você, que eu ainda não conheço, e eu. Guarde isso: enquanto eu continuar escrevendo você e eu permanecemos vivos.

Isso é tudo o que sei até o momento.

12 comentários:

  1. Respostas
    1. Sim, "isso começa a poder funcionar"! Valeu o comentário. Vou seguir na busca.

      E tu, como tá o teu?

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  2. Sim, agora deu uma virada. Estava ficando monótono, confesso, mas agora temos um armazém ou um banco ou um entrelinhas para procurar… Sim, Maurem acertou: isso começa a poder funcionar. Abraços! Sou medrosa? Cuidadosa? Não sei… sim, mas se você parar de escrever jamais saberemos dele, dela ou de você e eu, através da sua história jamais saberei de mim. Melhorou? Do dodói, perguntei. Fui! ;-)

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    1. Valeu, Helena. Teu comentário me inspirou - de novo. Agora vou postar o texto de hoje, que acabo de escrever..:)

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  3. Faltou uma vírgula aqui: "E eu, através da sua história, jamais saberei de mim.

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    1. Beleza. Ainda não revisei, estou apenas escrevendo, como recomendaram - a revisão total vai ficar para dezembro..:)

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    2. A vírgula que faltou foi no meu comentário. Se quiser usá-los, fique à vontade, todos os comentários aqui deixados, a exemplo da mulher que é sua primeiro, dela, são seus, comentários. Abração e sigamos. Está ficando interessante.

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    3. Que show, Helena. Valeu. Continue comentando. Tudo é água para o moinho..:) Fico feliz que esteja gostando. Abraços e sim, sigamos!

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  4. Estou gostando ansiosa pra ler os próximos capítulos

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    1. Seja muito bem-vinda. Te desejo uma boa leitura e uma ótima viagem - e se quiser comentar, sinta-se em casa...;)

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  5. Estou gostando ansiosa pra ler os próximos capítulos

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  6. “Guarde isso: enquanto eu continuar escrevendo você e eu permanecemos vivos.” Continua escrevendo (e voltando) pra gente continuar vivos. ❤️

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