quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Piano Para Pequena Clara – Dia 146




Terça-feira, 18 de novembro de 2014

23:49

Faltam dez minutos.

Quero capítulo novo com rosas amarelas e ballet, de presente de aniversário.

Eu já tinha visto ela, mas nunca assim tão de perto. Ainda não sei seu nome. Ela veio para mim, ontem, e disse que estava de aniversário amanhã – daqui a pouco, na verdade – e pediu para eu escrever sobre ela. Tipo um cartão de aniversário. E como seria essa personagem inspirada em você, perguntei, ainda sem ter certeza, como sempre, do que eu deveria fazer.

Ela disse que queria rosas amarelas. Seria uma bailarina. E seria um tanto melancólica.

Ela me disse que se sente muito gorda, embora para mim seja bem magrinha. Então ela disse que coloca as coisas para dentro, depois para fora. Nada deve entrar. E se entrar, tem que sair.

Gostei dela. Pensei nessa bailarina, cujo nome ainda não sei, carente e desesperada para me pedir um presente, eu, Maria Carente E Desesperada Que Às Vezes Faz Coisas Boas Para Os Outros. Talvez ela não seja desesperada, não como a maioria de nós. Na verdade, ela sorriu bastante nos breves instantes em que conversamos. Mas sei que ela também tem suas fendas. Um olhar de melancolia que decerto foi o que fez ela vir até mim. Pensar que essa garota vomita as coisas me causa quenturas na garganta e uma certa tontura.

Talvez eu também já tenha feito isso.

Muito tempo atrás.

Como talvez Clara.

De novo, começo falando de mim e acabo parando nesta história delirante. Comecei a falar dessa garota, Lady Ballet, na falta de outro nome, e tudo deságua em mim. Talvez tudo isso seja sobre mim, no fim das contas.

De novo, tenho vontade de chorar.

Me arrepio e sangro enquanto escrevo isso.

Choro e sorrio enquanto escrevo.

E ao escrever, danço.

Como Lady Ballet e suas rosas. E imagino ela com suas sapatilhas dançando em meio a uma cachoeira de rosas amarelas. Feito as que Oxum gosta. Ou seria Iemanjá? Não importa. Ela dança e talvez já não dance mais. Talvez nunca mais tenha dançado. Mas ela ainda aguarda uma última dança. Sozinha ou acompanhada, não importa. Ela sorri e enquanto caminha na ponta dos pés, não existe dor. A dança da cura, do sentido depois de tudo que se quebrou.

Por que ela me pediu para escrever sobre ela?

Porque ela é uma garota de fendas.

Sabby diz que sou a Maria Observadora.

Pelo menos não somos como essas idiotinhas que vivem rindo de tudo e não assumem suas dores, porque é uma vergonha dizer que temos dias tristes de vez em quando. A tal ditadura da felicidade. Hoje rio delas. Rio com pena. Com uma certa superioridade de quem já olhou por cima do muro e não tem mais como fingir que não há nada lá.

E as loucas somos nós, acabo de pensar.

De qualquer forma, ao som dessa música que me volta de tempos em tempos, todo dia na verdade, se eu tivesse coragem, coisa que nunca vou ter, de que alguém lesse essas palavras bem ruinzinhas que escrevo, talvez Lady Ballet me lesse e dançasse. Não, lesse, não. Apenas dançasse. Mesmo que fosse apenas uma dança de aniversário. Uma dança para matar as saudades. Uma dança para viver mais um pouco.

Para chorar sozinha no escuro.

Dançando.

Celebrando a vida, que apesar de tudo ainda é vida.

Vida hoje.

Estava louca para dormir, mas estava lendo um texto que Sarah me deu sobre sublimação, sobre crianças que aprendem a escrever bem e sentem prazer nisso, e senti uma certa paz. Passou o sono. Precisei vir aqui brincar no meu playground.

E espero que você esteja brincando no seu, Lady Ballet.

Feliz Aniversário, garotinha.

00:10

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