segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Depois do Nanowrimo - Dia 35

(Nota: O texto abaixo é o capítulo 35 que ficou faltando publicar na fanpage do Distantes Trovões no facebook - obrigado Cristiane Schwinden por me ajudar a corrigir a omissão. Mas vale republicar porque o trecho abaixo tem algumas chaves para esta história. Amanhã retomamos a ordem certa.)

 

Não escrevi ontem, nem ia escrever hoje. Você sentiria falta?

Os personagens da história que tento contar aqui, noite após noite, acho, sentiriam. Se você chegou hoje, e você é um outro você para o qual me dirijo, talvez se pergunte que diabos ele está falando. 

Ela. Meu primeiro nome, do qual nunca gostei, mas com o qual estou aprendendo a conviver (recuperar?) é Maria. Noite após noite venho aqui escrever. Para lembrar do que aconteceu com minha vida que me trouxe até este quarto (ou cela, dependendo de como você vê) e Sarah disse para eu escrever, porque dentro da escrita apareceriam coisas que estão enterradas, que nego que existam, que recalquei – o papo psicanalítico que ouço dela desde o tempo em que cheguei aqui.

Começamos assim: sou um narrador a procura de uma história. Narradora, porque tentei enganar, ou apenas deixei para contar depois, sobre minha sexualidade. Não quero falar disso. Por algum motivo, penso que as pessoas daquela família, que tem uma relação meio estranha com esse tema, também não gostariam de falar disso. O homem moreno e alto de cabelos lisos cujo nome ainda não consegui criar – e suspeito que haja um motivo para isso –, é médico e, portanto, tem uma reputação que deve ser mantida a qualquer custo. 

A qualquer custo.

Meu deus, Clara pode ter morrido por causa disso. 

E, de alguma forma, sei que ela morreu. 

Aquela garotinha que brincava feliz na pracinha, a pracinha que vi aqui da janela, ela em sua então inocência descendo faceira pelo escorregador. Do que mais ela gostava? Acho que ela rolava pela areia, e deve ter deslizado pelas poças de água nos dias mais chuvosos. Oh, Clara, o que a vida foi fazer com você?

Mas você me perguntou sobre o menininho. O que aconteceu com ele? Também não sei, por isso escrevo. Desenvolvi uma espécie de amnésia recente e mal lembro do que escrevi na noite anterior. E sou uma péssima escritora. Nem consigo batizar meus personagens. Mas sei que temos Maria, não eu, mas a mãe. Temos Lara, a irmã. A pequena Clara. E o irmão, que achei que se chamava Jonas. 

Mas sonhei com este garotinho ontem. Esse que tomou banho quando era criança com o homem moreno e outra mulher. Era Maria? Ele é irmão de Clara? Agora fiquei na dúvida. Tem alguma coisa de muito errado naquela família, nesta história que mal consigo inventar, e deve ter um motivo para eu não conseguir criar. É claro que Sarah vai dizer que é algo inconsciente. E jamais, em todos esses dias em que vim aqui escrever, que fechei a porta para afastar o mundo lá fora e todas aquelas pessoas que se vestem iguais, jamais pensei no que ia escrever. Apenas sentei e escrevi. Como é o nome disso? Livre associação? Que seja. Mas no garotinho eu pensei. O nome dele me veio nessas madrugadas sem fim que tento dormir. 

O nome dele é Marcos.

Mas por enquanto isso é tudo o que sei dele.

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