quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Depois do Nanowrimo – Dia 46



18: 37

Pequena Clara.

É por isso que estamos aqui, não?

É tudo sobre ela.

Um novo ano tem início e não vi os fogos. Apenas intuo que as pessoas lá fora se divertiram e não vou dizer que seus sorrisos, suas poses nas fotos e os malditos champanhes – que não bebo – são tudo uma mentira para que você não diga de novo que sou uma pessoa amarga. Apenas estou aqui, e estar aqui significa que devo escrever, e preciso começar a escrever logo, e logo tem que ser agora.

Amanhã pode não dar tempo.

Amanhã já posso ter desistido.

A festa – e sei que não é festa droga nenhuma – em minha cabeça não para. Mas prefiro pensar que estão todos de ressaca. É preciso que o povo cale a boca, um mínimo que seja (fora ou dentro da minha cabeça) para que eu possa escrever.

Não, não estou ficando louca.

Escrevi, e talvez você não lembre, que Clara era loira como a professora da 1ª série. Coloco as mãos em meus longos cabelos, desço com os dedos até as pontas e vejo que são negros.

São negros pintados. Neste momento não penso na cor que eles tinham. Não quero pensar em passado, não hoje. Apenas um dia, eu queria viver só hoje. Li um recorte de papel, arrancado de um calendário, que Sarah deixou aqui por cima. Dizia mais ou menos algo como entre o passado, que são nossas recordações, e o futuro, que são nossas esperanças, temos o presente, que é onde está o nosso dever.

Dever o quê, também me pergunto.

Neste momento devo apenas escrever.

Sei que você achou que não ia mais escrever. Eu também achei. Todos os dias, lembre, todos os dias penso em desistir. Mas no dia de hoje, ou pelo menos até o momento, não ouvi a miséria me chamando, porque ela sempre chama – às vezes escuto, às vezes não.

Clara ia mal nos estudos. Acho que é por causa do que acontecia em sua casa. Não há como uma criança estudar assim. Mas isso são apenas meus pontos de vista. Devo apenas escrever sem me intrometer na história.

E sei lá por quê, ou ainda não sei por quê, ou sei, mas quero fingir que não sei, quanto mais escrevo esta história que era para ser algo distante de mim, mais me vejo enterrada nela.

Enterrada.

E agora não sei como sair.

18:50

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