segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Depois do Nanowrimo - Dia 51


A preguiça me invade, a falta de ânimo também. Mas cometi o descuido de começar a escrever e, portanto, devo continuar. Continuo não sabendo o que acontece nesta história, nem por que escolhi escrever sobre um tema desses. Dizem que a gente não escolhe os temas, mas é escolhido por eles - já disse isso? O caso é que preciso encontrar Clara, tenho que descobrir o que acontece com ela no fim.


Um arrepio percorre minha espinha como uma descarga elétrica do espírito, tão logo escrevi a última frase.


Mas é verdade. Preciso saber o que acontece com esta família. Maria Péssima Detetive. É claro que você já deve ter dito “como, descobrir o que acontece, se é você quem está inventando esta história?”, mas ambos sabemos que talvez o que eu queira pensar que é ficção, tudo mentirinha, que nem filme para assustar, talvez não seja bem assim. Portanto, continuo escrevendo, sem pensar, ou melhor, penso em voz alta, nesta voz sem voz que são meus escritos em busca de um final. O processo deve funcionar porque comecei tudo isso - lembra? - apenas procurando uma história e existe uma agora, que está surgindo a partir do nada - ou dos confins do meu inconsciente, se você preferir.


Você, Jonas, meu irmão.


Igual ao personagem que batizei com seu nome porque sou uma escritora muito da ruim, e usei o mesmo nome porque não consegui criar outro. 


Ou você, Sarah, que insiste para que eu continue escrevendo aqui trancada, mesmo que hoje, em outro raro momento, a porta esteja aberta e não haja pessoas no corredor. Sarah, que sabe o que não quer, ou ainda não pode, me contar. E por isso escrevo. Para descobrir o que ela sabe. E talvez eu também saiba, mas não saiba que sei.


Ah, psicanalistas.


Vamos lá. O homem alto e moreno, Lara... Mas deveria ter sido Maria, em primeiro lugar. Maria, como o meu primeiro nome, que não sabia o que acontecia dentro de sua própria casa. Ela não sabia ou seu ego a protegeu - viu como estou ficando boa nisso? - para que ela não visse o que estava vendo? Mas ela deve ter descoberto, ainda não sei como, o que o homem moreno fazia com Clara. Como ela descobriu? Será que ela viu alguma coisa? Será que já via desde que Clara era um bebê e o pai ficava brincando com seus órgãos genitais

Meu deus, pode ter sido isso. Ele disse que estava apenas trocando suas fraldas.


Trocando as fraldas, o miserável.


Mas talvez ela tenha pensado que não era nada. Ou perguntou o que ele estava fazendo e ele bateu nela. Será que desde essa época o homem alto e moreno de cabelos lisos já batia em Maria? Talvez ele não tenha batido dessa vez, mas é quase certo que ele negou ou sequer se fez de entendido quando Maria perguntou, em tom de voz nervoso, e não deveria estar nervosa, era uma simples pergunta:


- O que você está fazendo?


Ele estava brincando com os órgãos genitais de Clara, Maria.


Meu deus, como pode não ter visto isso?


Mas então penso que ela viu, que ela sabia, mesmo quando negou saber, quando quis não saber, e teve medo. De apanhar de novo.


E em algum ponto, que ainda não sei qual foi, ela talvez tenha vencido esse medo e seu instinto, que na verdade não é um instinto, de Mãe Protetora Que Morreria Pela Filha, falou mais alto. 


Mãe Protetora Que Morreria Pela Filha.

E é neste instante que começo a chorar de novo.

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