quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Depois do Nanowrimo – Dia 49


A história surge na vida que urge.
Ou a vida que surge na história que urge.
Não sei, foi apenas uma frase que, aliás, acho que foi você quem me soprou. Não importa. Era apenas para começar a escrever, inclusive porque Sarah disse que eu deveria tentar escrever todos os dias. Não estou tão mal. Tentar, tento todos os dias. Bem, tento tentar todos os dias.
Maria Tentadora.
A porta está aberta de novo. Sem pessoas ao redor. Silêncio. Tenho vontade de dormir e talvez – talvez, ainda não sei – acordar daqui a um século quando tudo já vai ter passado, inclusive o fim desta história. Pensando bem, pode ser uma boa: olhar para o passado, não este passado que busco, mas o passado que ainda é futuro, e ver o que aconteceu com o futuro. Com aquilo que achei que não seria, e foi. Ou aquilo que achei que seria. E não foi.
Fica cada vez mais difícil, e sem sentido, aqui entre nós, escrever esta historinha. Maria Que Não Tem Mais O Que Contar.
Sarah diz que eu tenho sim, e aquilo que deveria contar, ainda não contei.
Será que é por isso que estou me amarrando?
De repente nem sou uma escritora tão ruim, no fim das contas. Talvez seja apenas uma escritora com medo. Então, escreva em meio ao medo, Sarah me diria. E se eu não quiser? Talvez, pensei agora, o grande problema de desenvolver esta narrativa, que a cada dia ou  noite ou madrugada sai a partir do nada, sempre a partir do nada, não seja a minha falta de criatividade ou o tato para escrever.
Seja apenas medo.

Há sei lá quantos dias, lembrei agora, eu disse que estava com medo desta história. Se é o inconsciente que escreve por mim, e minha função é apenas sentar minha bundinha aqui e registrar o que passa em meu cérebro, o inconsciente também me disse isto: em algum destes dias, não lembro qual, eu disse que estava com medo desta história.

Medo do homem alto e moreno de cabelos lisos?
Essa seria a resposta óbvia, e se for isso acho que podemos dar um jeito. Acho que posso matá-lo, afinal sou eu quem está escrevendo esta história. Neste momento, confesso, essa ideia me parece bem convidativa. Mas temo outro temor e que é maior. O medo da história não é em relação ao homem moreno, mas em como esta história terminou, e isso ainda não tenho certeza, mas – Deus queira que não – desconfio. Acho que é neste fim que não quero chegar. Quero tentar parar o tempo, cortar, colar, fazer um retalho. Quero mudar as coisas como são. Ou como foram, ou como ainda serão.

Nesta altura da história estão todos vivos.
Ainda.

Talvez o homem moreno morra no fim. Até aí, penso, tudo bem. Mas talvez não seja ele, ou não apenas ele. Talvez ninguém morra, ninguém pode morrer. Ninguém deveria ter morrido.

Sinto uma vontade de chorar. Suspiro. Ao ar que vai rareando.
Decido chorar, mas então mudo de ideia.

Preciso continuar escrevendo. E seja lá qual for o fim disto, preciso chegar lá.
Preciso descobrir o que aconteceu com Clara.

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