quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Depois do Nanowrimo – Dia 56



Fiquei uns dias sem escrever.  Li um pouco sobre teoria literária, vi que a história vai contando a si mesma conforme a gente escreve. Eu só tenho que sentar aqui e escrever. Meu compromisso é sentar aqui. Ou já disse isso? Estou mais esquecida do que antes. Aliás, se já não lembrava o que tinha escrito na noite anterior, imagine agora que deve fazer uma semana que não escrevo uma mísera palavra para esta historinha.

Eu não ia escrever mais. Nunca mais. Foi Cris quem me perguntou sobre o que era a história que eu estava escrevendo. Eu não soube explicar, apenas disse que tinha parado de escrever e não estava conseguindo retomar. Ela – porque Cris é uma mulher, e não sei por quê, neste momento vejo que se alguém começasse a ler esta história agora podia pensar que Cris é um homem, e ela é até bem feminina, não vulgar, seja lá o que signifique uma mulher vulgar, mas de vez em quando ela fala na Faele, que foi embora e não veio mais visitar ela – disse que se eu consegui escrever no mês passado, na semana passada, eu ainda consigo escrever. Cris me dá força. Acho que também estou viva por causa dela. São suas garotas estranhas que por algum motivo se identificaram – talvez por sermos estranhas, e também não sei o que quer dizer uma mulher estranha, para mim todo mundo que está aqui é estranho. Temos nossas dores. Falamos pouco delas.

Também por isso, escrevo.

Também por isso, não quero escrever.

Dói contar a história de Clara. Mas me perguntaram: como termina a história de Clara? E de Marcos? De Jonas? Como termina a história dessa família de abusos, de dores veladas, de segredos, de traições? Se eu fosse uma boa escritora, se eu soubesse escrever, talvez fizesse uma saga. Talvez contasse três ou quatro gerações desta família. Mas a verdade é que esta família, pensei agora, talvez não mereça sobreviver. Ou pelo menos, passar a desgraça para a geração seguinte. Sarah me disse que a gente tem a tendência de repetir os padrões de nossos pais, que por sua vez repetiram os padrões de nossos avós, e assim segue a caravana. Então, imagine se Clara se casasse. Imagine o que seu marido não faria com sua filha.

Pode ser filho também, mas pensei em filha.

Meu deus.

De alguma forma tem que haver uma queda neste padrão para que a geração futura não sofra.

Mas como?

Isso ainda não sei. Não sei como vai terminar esta história. Apenas escrevo o que meu inconsciente dita, e Sarah disse que era assim mesmo para eu fazer. Ela também me perguntou da história, eu disse que estava sem escrever, mas foi só com a dica da Cris – e um pouco de raiva que tenho sentido, não entendo bem por que – que as coisas voltaram a funcionar. Pelo menos funcionaram hoje. E vou dizer, neste momento sinto que sempre que escrevo me sinto viva. Então por que você não escreve todos os dias, você me pergunta.

Porque nem todos os dias quero estar viva. 

Hoje quis. 

Amanhã, não sei.

De qualquer forma, hoje vou contar para a Cris que a ideia dela deu certo. Agora é de tarde, e Cris – assim como eu – só vai para a sala onde comemos de noite. Tudo bem, me seguro até lá. A porta está aberta e está tudo calmo. Sei que daqui a pouco vão começar aqueles barulhos diários, os quais odeio. “Os quais”, estou melhorando com os pronomes. Mas não me importam os barulhos, e sim que consegui escrever hoje.

Com isso fico viva mais um dia.

E Clara também.

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