quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Depois do Nanowrimo - Dia 59


18:04

De volta ao começo.
Pensei em começar a escrever tudo de novo.

Mas suspeito que nem você nem eu teríamos fôlego para chegar até aqui.

Escrevo para cicatrizar minhas feridas, para dar um sentido para a dor. Que sempre volta, por isso devo escrever todo dia. Até que passe, e se ela não passar vou continuar escrevendo e escrevendo. Suspiro. Maria Suspirante. Você já deve ter notado que é quase um hábito eu suspirar. Mas também suspeito que você comece a entender por quê. De qualquer forma, esta história não é sobre mim, é sobre Clara. Ou pelo menos assim o penso, assim acredito.

Não falo muito do lugar de onde escrevo, então talvez não faça muita diferença eu dizer que estou escrevendo de outro lugar. Uma outra mesa. Outro quarto. Não penso neste lugar onde estou como uma cela - parece mais com uma sala. Cela e sala, aliterações -, embora às vezes pense que meu quarto é uma cela. Condenada a escrever. Até que chegue ao fim da história. E então de volta ao começo. 

Se nem terminei uma coisa, como posso começar outra?

Essa frase talvez tenha um significado mais profundo do que na verdade sinto neste momento. Sarah disse isso, e me voltou à mente.

Clara que era criança. Criança que não teve infância. Ser criança não quer dizer ter infância, Sarah me disse. Começo a entender melhor isso. E Maria? Nunca pensei a fundo no passado de meus personagens, nem em como eles se conheceram. Como era a vida do homem alto e moreno de cabelo liso junto com Maria antes de Clara nascer. E o menino, você me pergunta de novo. Marcos ou Jonas? Sei que você vai dizer que é um artifício muito ingênuo quase todo dia eu repetir que não sei dos meus personagens, que não lembro deles. Quer dizer, não consigo criar. Afinal, é tudo ficção. Nada disso aconteceu. Não pode ter acontecido. É apenas uma história, e sei que devo continuar escrevendo esta merda até o ponto final. Não posso parar, não posso desistir. Embora, você já sabe o que vou dizer agora: quase todo dia penso nisso.

O que me faz insistir nisso?

O que faz alguém insistir na vida?

Quem daquela família insistiu em viver?

Insistir em viver, veja a que ponto chegamos. Meu deus, a que ponto chegamos.

Lady Clara, pequena Clara. Insista. Preciso de você como preciso continuar respirando. Por favor, insista.

Nem que seja a última coisa que você faça na vida.

18:18

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