sábado, 8 de fevereiro de 2014

Depois do Nanowrimo – Dia 60




02:49

É madrugada. Não costumo escrever de madrugada, embora seja um horário especial para escrever. Silêncio. Posso imaginar cenas para a minha historinha, nem adianta olhar pela janela, não vou ver nada. Preciso criar. Buscar nos confins do meu inconsciente. Fico me amarrando para entrar na história, eu sei. Hoje li sobre um roteirista que dizia: escreva quando você não tem vontade de escrever, o que para mim significa escrever todos os dias, se fosse levar isso ao pé da letra. Já falei isso? É claro que você deve estar pensando: Maria Repetitiva, lá vem ela com a mesma ladainha de não se lembrar do que escreve, do que já contou.

Mas eu não lembro.

Nem do começo da história, sobretudo o começo da minha história. Embora intua algumas coisas, talvez – que ninguém me escute e ninguém vai me escutar agora, por isso escrevo – comece a quem sabe admitir algumas coisas.

Mas não quero falar disso agora.

Ainda estou na busca de Marcos, e estou na busca de Jonas, e certamente busco Clara, porque acho que Marcos e Jonas vão me levar até Clara. Teve um dos garotos que saiu de casa. Era Marcos, não? Jonas, irmão de Clara. E Marcos, filho de Lara? Talvez filho do homem moreno de cabelos lisos, não assumido, talvez esse seja outro dos segredinhos que Lara não quis contar para Maria. Também, ia dizer o quê?


 Claro que você não vai se importar, é uma coisinha de nada, mas tenho um filho com seu marido, inclusive transamos na sua cama quando você não está em casa. Mas você sabe, você é minha irmã mais velha, te amo, etc.

Talvez, pensei agora, Lara tivesse um marido, quem sabe um namorado, ou apenas mentiu que engravidou, o cara não quis assumir e sumiu do mapa. Tecnicamente, não seria exatamente uma mentira: o homem moreno fez um filho nela, não quis assumir, ninguém contou nada para ninguém e ficaram elas por elas. Lara foi forçada, ameaçada?

Duvido.

Acho até que ela estava gostando do jogo.

Mas ainda não sei se Maria se internou no hospital por causa disso, porque ela nunca falou, e jamais deram bola, ela era apenas a mulher depressiva e como a maioria das mulheres depressivas, invisível. Tachada de louca, vivia fazendo charme, ficando o dia inteiro na cama, em vez de ir à luta.

Por que esses miseráveis não viram que ela estava doente?

Porque foram eles mesmos que adoeceram ela.

Mas ela era mãe, ela tinha que saber. Ela sabia, talvez não quisesse ver, talvez tivesse medo do marido – com certeza tinha medo do marido – mas ela tinha que saber o que o homem moreno fazia com Clara. É impossível ela não saber. Ela era mãe, as mães sempre sabem.

Pobre Maria. Maria, concebida no pecado.

Eu também devia saber. Maria, eu deveria saber. Clara, eu deveria saber. Preciso de vocês duas. Não desistam. Preciso chegar ao fim disso. Preciso de vocês, mesmo que a gente viva um dia de cada vez. Foi só isso que pediram: um dia depois do outro. Fica mais fácil. Mais suportável. Clara, ainda há esperança.

Para você e para mim, garotinha.

Sarah, vou até o fim com este inferno. Mas, nem que seja a última coisa que faça, e que tombe morta depois que sair deste quarto, quem sabe caminhe por este corredor como se estivesse rumando para a cadeira elétrica, mas eu vou sair do outro lado.

03:07

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