domingo, 16 de fevereiro de 2014

Depois do Nanowrimo – Dia 64


Acho que ambos notamos isto: cada dia que escrevo é um dia a mais de vida para Clara.

Um dia a mais de vida para mim, também.

Hoje li que as pessoas ficam vivas através das nossas palavras, e que se existe um espaço em branco (como uma folha de papel ou um programa de computador para textos), ele deve ser preenchido. Cada dia que insisto em escrever, é um dia a mais para mim também. Talvez para encontrar um sentido nisso tudo, que ainda não encontrei.

Você diz que esta história continua nebulosa, que o caldo está grosso. Não me culpe. Sou a Maria Que Não Sabe Escrever de Outro Jeito. Aliás, Maria Que Não Sabe Escrever de Jeito Nenhum. Mas mesmo com minha inépcia literária (talvez a prática me proporcione usar palavras mais elaboradas), escrevo aqui pelo septuagésimo quarto dia. Noite, na verdade, porque é quando geralmente escrevo. Mesmo depois de mais de dois meses, ainda tenho muitas dúvidas quanto ao que contar e, acredite, em nenhum desses dias sequer parei para pensar no que ia escrever. Apenas escrevi.

Sarah me disse que era para fazer assim mesmo.

Ela acredita, como eu começo a acreditar, que as imagens são fornecidas pelo meu inconsciente. Por que quis contar uma história assim, você me pergunta. O homem alto e moreno de cabelos lisos, que era casado com Maria, a mãe, pai de Clara, de quem abusava, cunhado de Lara, a quem usava também (mas essa permitia, acho até que gostava – é claro que gostava, ainda não entendi a razão, se é que existe uma razão em especial, para ela transar com o marido da irmã em sua própria cama, inclusive quando Maria estava no hospital, e Lara supostamente cuidava de Clara). Ainda temos os dois garotos, Jonas e Marcos. Você já deve ter notado que esta história emperra, ela vai até uma parte e tranca, provavelmente porque eu mesma emperro. Maria Emperrada.

Não consigo guardar muitas coisas na memória, e imagino que você já tenha notado isso. De novo, estou cansada. Cris não está aqui. Quer dizer, ela jamais está aqui comigo, ninguém jamais está por perto quando escrevo, mas ela não foi jantar hoje.

Neste momento me veio um medo de perder ela também.

Perder ela também.

O que mais eu perdi, você me pergunta.

Suspiro.

Uma dorzinha aparece no fim do corredor, me abana. E vai embora.

Sei que não é por acaso que toda noite, todo dia e toda noite, luto para contar esta história. Eu não quero escrever. Não quero contar. Não quero... enxergar? Preciso de olhos, mas não quero que eles funcionem.

Mas cedo ou tarde a luz deles vai me cegar. E voltarei a enxergar.  Percebe o paradoxo disso?

E então saberemos como termina a história de Clara.

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