quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Depois do Nanowrimo - Dia 62


E então, do que vamos falar hoje?

Do que falo todo dia: a busca por uma história e a vontade de fugir dela, que no fundo é a vontade de fugir de mim.

Essas coisas da Sarah pegam.

Lá fora chove. Fazia tempo que não ouvia o som da chuva, e o som do silêncio por aqui. Estou com fome, mas prefiro escrever antes e me livrar do meu tema de casa antes. Cris anda quieta. Ela ainda não apareceu, nem sei se vamos jantar hoje, então escrevo agora. Acho que ela está com saudades da Faele. Ela nunca mais apareceu.

Cris fala pouco e respeita o fato de eu mesma falar pouco também. Às vezes acho que ela é a única que me entende nessa masmorra. Masmorra, pensei agora. Nunca tinha pensado neste lugar assim. Mas a porta está aberta de novo e o corredor está vazio.

Sonhei com o fim disto. Talvez por isso fique me amarrando para escrever. Tenho medo de chegar no fim da história. Mas sei – eu sei, embora tente não pensar nisso – um dia o fim vai chegar. E se esta história termina do jeito que imagino, eu não quero que ela termine. Eu podia parar de escrever.

E aí ninguém morre no fim.

Mas Sarah vai me perguntar: e como termina a história de Clara?

E eu vou dizer que não termina, que quero contar outra coisa, que não quero contar nada.

Não sei o que ela dirá, mas imagino que não aceite essa desculpa. Esfarrapada, como todas as desculpas.

Lara ainda era jovem. As coisas em minha cabeça se misturam, não sei bem a ordem em que elas aconteceram. Maria Que Não Sabe De Nada. Mas Lara era jovem e bonita, e talvez desde essa época o homem moreno já ficasse com ela, sem que Maria soubesse. Droga, se Marcos é filho dele, é claro que eles já ficavam juntos desde muito.

Será que Maria nunca desconfiou?

Acho que sim. As mulheres sabem. Elas sentem, mães que são.

Então por que ela não fez nada para salvar Clara?

Então alguém deveria ter salvo Clara?

E eu quero dizer que ela não foi salva?

Ainda não sei. Ou sei, mas finjo que não sei. Não quero chegar ao fim desta história. Preciso de mais tempo. Clara também. Preciso de você, Clara. Viva, garotinha, viva. Mas não sei se isso ainda é possível. Ela já havia tentado se matar. Da primeira vez ela não conseguiu. Ela tentou uma segunda vez, abriu o gás do fogão. Maria chegou a tempo e disse:


 Que cheiro de gás.

Clara já estava tonta, mas nada disse. Maria fechou o gás. Também nada disse. Mas olhou para o quarto de Clara, que a essa altura já estava com a porta fechada. É claro que Maria entendeu naquele momento que sua filha queria se matar. Então caminhou até o quarto. Bateu na porta. Clara, chamou ela. Clara abriu a porta. Estava séria. Maria se abaixou e a abraçou apertado. Bem apertado, e naquele momento ela desejou a eternidade para as duas. Não poderia mais soltar aquela garotinha. Ela poderia se quebrar, e de alguma forma já estava quebrada. Maria, a mãe, que naquele momento não se sentiu mãe capaz, mãe digna, mãe mãe. Mãe que não soube cuidar, que não podia mais cuidar. Ou podia? Ainda havia tempo? Ainda havia tempo para Clara?


 Eu te amo, minha filha.

Só então Clara começou a chorar.

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