domingo, 16 de fevereiro de 2014

Depois do Nanowrimo - Dia 63


03:30

Estou com sono. Meus olhos ardem. Não consigo dormir.

Por isso escrevo.

Senti faz pouco uma leve tontura. É por causa dos remédios, você me pergunta. Senti uma tontura, apenas isso. A vida me fez assim. Jantei com Cris hoje. Ela me contou sobre o dia em que se assumiu. Ela estava com água nos olhos. Disse que estava cansada de se esconder de si mesma, de lutar contra a sua natureza. Eu também estou cansada disso, mas talvez não tão cansada quanto ela. Depois ela me disse que sou bonita. Ficamos nos olhando. Ela sorriu e disse:
 Não se preocupe. Não vou te beijar.

Eu sorri num humpf, ou acho que sorri, não sei. Mas não me vejo bonita. Aliás, não me vejo de forma alguma. Talvez pareça óbvio, mas não quero me enxergar. Vou escrevendo esta história, vencendo minha preguiça, dando um sentido para minha insônia – e quem sabe minha dor. A dor que finjo que não existe. A dor que finjo que esqueci. Como esqueci de como vim parar aqui. Quem eu era. Quem eu sou.

Continuo sem saber desta história, apenas vou tateando, tipo tentativa e erro e ela vai se contando para mim. Por mim já teria desistido de escrever há muito tempo, mas Sarah insiste que eu deva continuar. Às vezes acho que é mais importante para ela do que para mim. Na verdade, para mim não é importante. Apenas escrevo porque... Bem, nem sei o motivo. Mas existe um. E ainda não sei qual é. Não entendi o sentido disso tudo.

Sei que Clara era uma menina quieta. Ela via muitas vezes Maria deitada na cama por longos períodos e não entendia, embora suspeitasse, porque era só o que diziam, o quanto sua mãe estava doente. Lara cuidava de Clara e quando Clara perguntava o que estava acontecendo com sua mãe, Lara apenas dizia que a irmã estava descansando, que não era para incomodar ela. Clara às vezes entrava no quarto de Maria, ficava olhando para ela, perguntava se ela não ia levantar. Mas ela não levantava. Seria culpa de Clara? Por que a mãe não levantava?

Ainda não sei bem como o homem moreno alto e de cabelos lisos lidava com isso.

Quer dizer, além de comer a irmã dela.

E a filha também.

Filho da puta, miserável.

Eu devia escrever isso com raiva, com ódio, talvez, e você se pergunta: como é possível ter raiva de um personagem? Mas neste momento não tenho raiva. Aliás, nem outro sentimento. Apenas estou cansada. E escrevo só porque devo continuar escrevendo, senão jamais saberei o que acontece com Clara. Sim, eu me importo com ela. De alguma forma, dependo dela. Preciso que ela viva, e não sei se isso é possível. Cada dia que venho aqui escrever, deixo ela viva mais um dia. Outro dia para aquela garotinha que todos achavam linda, e era linda, embora talvez ela nunca tenha se visto assim. Preciso de Clara viva e se ela ficar viva, talvez Maria se levante da cama.

E talvez eu também fique viva mais um dia.

03:47

Nenhum comentário:

Postar um comentário