quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Depois do Nanowrimo - Dia 61


00:40

Meu nome é Maria.

Quer dizer, meu primeiro nome é Maria.

Tenho repetido isso tanto que quase me esqueço que nunca gostei de ser chamada por esse nome.

Talvez Maria, se alguma forma, esteja nascendo.

No fim das contas, talvez a ideia de Sarah de escrever esta história que tento contar, ou criar, mal e parcamente, sirva para alguma coisa. Para mim, é claro, porque nunca, jamais vou mostrar esta historiazinha para alguém. Depois que eu terminar de contar a história de Clara vou jogar tudo fora. Ainda não sei como vou destruir esta história, mas tenho certeza de que ninguém jamais vai ler.

De qualquer forma, e por favor não me pergunte de onde tiro essas coisas, mas me ocorreu que o homem alto e moreno de cabelos lisos certa vez deu bebida para Clara. Não tinha pensado nisso, mas provavelmente ele fez isso depois de ter interrompido sua abstinência. Sei que ele ofereceu bebida para ela. Em minha cabeça, pelo menos é o que visualizo neste momento, era vodka. Dizem que a vodka não deixa cheiro.

Eu não sei, não bebo.

O caso é que Clara não quis beber. Ele insistiu. Ela se fechou em um canto, ele insistiu e ela insistiu que não. Toma aqui, sua guria de merda, ele gritou. Ela começou a chorar, disse que não queria. É certo que ele já estava bebendo há dias, agora isso me veio com clareza. O homem ergueu a mão para bater nela, e um garoto disse:


 Não bata nela.

Ele olhou para o garoto, que completou:


 Eu bebo no lugar dela.

Clara continuou chorando até que foi silenciando, aos poucos. O homem moreno começou a sorrir, nem olhava mais para Clara. Estavam só os três em casa. Ele olhou fixo para o garoto, que o olhava de volta. Ele era alto e o garoto era apenas um garoto. O homem esticou o copo para ele. Clara respirava baixinho, aos soluços, como a respiração que sobra depois do choro. O garoto pegou o copo. O homem, mudo. Houve um silêncio ensurdecedor na sala. O garoto segurou o copo com as duas mãos. Mal conseguia fechar a mão em torno do copo e seu líquido. Ele tomou um gole. Fez uma careta. Devolveu o copo.


 Toma outro gole.

O garoto segurou o copo que o homem recém esticara de volta. Respirou fundo. Tomou outro gole. Fez outra careta, dessa vez menor que a última. Ele estava começando a acostumar. Mexeu a cabeça, como se estivesse baixando a pressão.

O homem pegou o copo de volta.
− Agora você já é homem de verdade. Que bom. Você vai longe. Ao contrário de sua prima.

O homem saiu da sala, levando o copo, tomando mais um gole.

O garoto não olhou para Clara. Fixou os olhos no chão. Seu corpo estava mudando. Queimando por dentro. Mas era uma quentura boa. A sensação era legal. E ele nunca mais esqueceria dela.

Esse garoto se chama Marcos.

Filho de Lara.

E, mesmo que ele ainda não soubesse, filho do homem moreno também.

01:04

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