terça-feira, 4 de março de 2014

Depois do Nanowrimo – Dia 69


Estou cansada.

Mas já estive cansada antes, e escrevi.

Tive uma ideia muito legal hoje, enquanto tirei um cochilo de tarde. Não anotei, esqueci.

Você sabe, não é a primeira vez que isso acontece. E imagino que não vá ser a última.

O mais difícil já foi: comecei a escrever. Agora é só seguir. Maria Em Busca De Clara. Um capítulo a mais, um metro a mais. Vou escrevendo, assim, sem vontade nem ânimo, mas quem sabe apareça alguma coisa antes de eu desabar de sono. E desistir, meu verbo preferido.

Cris anda meio doente. Ela jantou rápido e foi para o quarto dela, ler. Ela diz para eu ler mais, que ler ajuda a escrever melhor. Mas se eu for ler, não vou escrever. Ou talvez seja apenas uma questão de organizar melhor meu tempo – tempo nada, só tenho que colocar as ideias no lugar. Cris é quietinha, acho que por isso a gente se dá bem. Ela fala pouco. Não sei como ela lida com a falta de Faele, que não veio mais ver ela aqui. Também não sei como lido com as minhas faltas, já que ninguém veio me ver aqui, e se você perguntar quem eu queria que viesse, também não sei.

Sinto faltas, mas não lembro do que a vida era antes de eu vir para cá.

Só sei que meu destino é continuar escrevendo. E o destino de Clara? De alguma forma que ainda não consigo entender, nossas histórias estão entrelaçadas. Ela depende de mim, mas eu também preciso dela para ficar viva. Temos uma, como é a palavra? Simbiose.

Talvez contar esta história seja o que me deixe viva a cada noite, e lá no fundo não sei se eu mesma não vou morrer quando tudo terminar. Será que é por isso que tenho medo de escrever? Não ia escrever “medo”, mas confesso que foi a exata palavra que pensei, e Sarah disse que eu deveria escrever exatamente o que pensasse, e não pensar sobre o que eu estava pensando. Apenas escrever, e confiar que os pontinhos vão se ligar. Na verdade, ela não falou essa última parte, mas eu acredito – embora, agora confissão assumida, eu tenha medo de – que os pontinhos vão se ligar. Claudius, Maria, Jonas, Marcos, Lara. E Clara. Lara e Clara, percebi agora, são nomes parecidos. Será que Clara é filha de Lara? Bem, podia ser apenas uma homenagem à tia, irmã da mãe – mas bem poderia ser sua mãe, pois papai estava dormindo com a titia. A titia mais nova e bonita. Papai dormia com a titia gostosinha enquanto mamãe estava doente sobre uma cama. Em depressão, em casa ou no hospital.

Mas papai não se conteve com a titia.

Também quis a filhinha.

E talvez tenha querido o filhinho, talvez em algum banho, isso ainda não sei. Tenho que continuar escrevendo. Preciso saber o que aconteceu com Clara, mas também preciso saber o que aconteceu com Claudius. Claudius e Clara. Ele era mesmo pai dela, e não padrasto como suspeitei. Em minha próxima encarnação quero vir como uma escritora competente. Não seria tão mais simples a história já estar pronta em minha cabeça e eu apenas escrever, do começo ao fim?

Claro que sim.

Mas aí não descobriria como vim parar neste lugar.

Talvez eu já saiba, assim como já saiba como termina esta história.

Falta apenas coragem para olhar para tudo isso e encarar as navalhas que me abriram ao meio. E buscar a origem de como essas marcas de queimadura vieram parar em meu corpo.

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