domingo, 9 de março de 2014

Depois do Nanowrimo – Dia 74


01:56

Estou cansada. Com fome, de novo. E cansada.

Não vi Cris, começo a ficar com medo dela estar doente.

Não, não posso perder mais uma.

Por favor, não.

A aflição acaba de me invadir como um sopro de lava vindo de dentro do vulcão ou um suspirar de um dragão, e não quero neste momento ter que escrever uma nova história para recuperar mais uma.

Por favor, não.

Sempre me pergunto se devo continuar escrevendo, insistindo nesta história horrível, e é mais ou menos como insistir com a vida – que às vezes também pode ser horrível. Hoje soube de um maestro britânico que teve encefalite e perdeu a capacidade de guardar a memória recente. Ele não lembra de nada por mais de trinta segundos. Não lembra da mulher, do filho, da casa onde mora. Desde que a ambulância o levou (“o” levou; veja como estou aprendendo a respeitar os pronomes, rá rá), quase trinta anos atrás, ele não lembra nada.

E lembrar do homem que não lembra de nada, me fez lembrar de mim.

Então minha sina é continuar escrevendo. Insistindo nesta história, dure até onde ela durar. 


E insistir na vida, dure até onde ela durar.

Amanhã penso mais em Clara, em Claudius, quem sabe em Lara, Marcos e Jonas. Talvez pense em coisas que ainda não pensei para formular esta história. É óbvio que essa história não saiu do nada. Você me pergunta por que escolhi contar uma história dessas. Talvez ela seja mais real do que quero supor, ou mesmo admitir. Mas por que contar uma história dessas? Isso ainda não sei, apenas fiz o que Sarah me disse: escreva. Apenas escreva.

Sobre o quê? perguntei várias vezes.

Escreva, apenas escreva. E tente escrever todo dia para não perder o fio da meada.

Tenho conseguido, nessas noites que me convidam a buscar um sentido para tudo isso.

Um sentido.

É tudo que procuro.

02:08

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