quinta-feira, 6 de março de 2014

Depois do Nanowrimo – Dia 71


Às vezes tenho vontade de explodir este lugar.

Maria Explosiva.

Minhas costas doem. Cris não jantou comigo hoje, e fiquei irritada. Talvez já estivesse irritada, assim como de vez em quando tenho raiva deste lugar, das pessoas daqui. E continuo aqui, isolada e sozinha, dois de meus adjetivos prediletos, condenada a escrever a história de Clara.

Faz dias que não penso em piano, mas hoje me ocorreu que bem poderia ser Maria, a mãe, quem tocasse piano. E o maldito homem moreno e alto de cabelos lisos impediu ela de tocar, talvez por ciúmes. Em minha mente de escritora amadora visualizo ele destruindo o piano de Maria, mas ainda não consegui criar algo para justificar isso. Nem como ele destruiu o piano.

Em minha mente vejo um taco de beisebol.

Não sei se ele já tinha voltado a beber.

Como eu queria não ser tão louca e simplesmente contar uma história simples. Pelo menos com pé e cabeça.

Sarah disse que estou no caminho.

De quê? De quem?

Hoje ainda não deu tempo de desistir – ou melhor, deu, sempre dá, mas ainda não tinha me ocorrido, e por isso escrevo. Claudius destruiu o piano de Maria. Maria tocava piano. Claudius tinha ciúme de Maria. Por quê? Em minha mente nem tão criativa assim, um dos garotos, Marcos ou Jonas, teve algo a ver com isso. Será que Claudius tinha ciúme deles também? Será que um deles já estava meio grandinho e em sua mente doente Claudius pensou que Marcos ou Jonas, ou Marcos e Jonas pudessem ser concorrência para ele, de alguma forma? Será que o todo-poderoso Claudius era inseguro?

Doutor de merda.

Minhas costas doem.

Minha respiração vem pouca.

Preciso continuar escrevendo esta maldita história. Vejo em um flash: Clara em uma tarde no pátio da escola, enquanto outra guria estava apalpando sua genitália. Sarah disse que as crianças fazem jogos e brincadeiras se tocando para descobrirem a própria sexualidade.

Não quero falar de sexo agora.

Em minha mente, a menina estava segurando a mão espalmada sobre a vagina de Clara, e Clara bateu tão forte de volta que a criança caiu no chão. Tia Vera mandou chamar Maria e Claudius, que não foi. Tia Vera perguntou por que Clara andava com o temperamento violento, e disse que aquela não tinha sido a primeira vez em que ela batia em uma coleguinha – no outro dia, mordera um dos garotos.

Está acontecendo alguma coisa? perguntou ela.

Meu deus, Maria, como pôde não ter visto o que acontecia em sua própria casa?

Ou você viu e ficou com medo, com medo de apanhar mais, com medo de que ele fosse embora ou, pior, machucasse Clara ainda mais?

Não, Maria, eu sou mulher. Não estou julgando. Não posso julgar. Você, como todos os outros, são frutos da minha imaginação.

Ou será que esta história tem realmente mais do que quero ver?

Somos mulheres com nossas dores veladas. Vou conhecendo a sua, a de Clara, reencontrando a minha. “Nunca deixe um homem bater em você”, sempre ouço uma porção de outras mulheres falarem.

Vocês não sabem merda nenhuma.

Acham que Clara escolheu passar por isso? E Maria, também?

Vão para o inferno, dondocas, vocês não têm a menor ideia do que Clara passou. Nem Maria. Confesso, julguei Maria, mas a cada noite que tento me conectar com esta história, com essas mulheres e aquele homem maldito, algo dentro de mim grita, e essa pulsão talvez seja aquilo que não me deixe morrer. Hoje não.

Talvez amanhã.

Mas hoje não.

Não vou desistir de você, pequena Clara.

Aguente firme, garotinha.

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