sexta-feira, 7 de março de 2014

Depois do Nanowrimo – Dia 72


00:04

Às vezes, amanhã é outro dia.

Às vezes, não.

Eu continuo com vontade de explodir este lugar de merda.

E confesso que não me importaria se estivesse aqui junto para ver tudo indo pelos ares.

É claro que pensei em minhas queimaduras agora.

Mas tem outra coisa queimando.

Por dentro.

E dói.

Dói pra cacete.

E no meio de tudo isso, ainda tenho que pescar Clara. No mar de sentimentos revoltos, tenho que achar minha pequena náufraga. Pequena náufraga, daria um nome de poema, e eu escreveria, se soubesse escrever. O caso é que sonhei com o homem moreno e alto de cabelos lisos. Em minha mente de projeto de narradora, nesta história que estou tentando contar, Claudius era um bom vizinho. Ele sorria, cumprimentava a todos. Parava para conversar. O tipo de pessoa que não se imaginaria fazendo as coisas que fazia entre quatro paredes, e não estou falando das paredes que rodeavam Maria. Talvez nem das paredes que rodeavam Lara, que deveria estar cuidando da sobrinha em vez de trepando com o cunhado. Mas as paredes que cercavam Clara, que aprisionavam Clara, ela mesma prisioneira dentro de si, porque ninguém ia acreditar que o Sr. Dr. Claudius esfregava o pipi no popó da filhinha.

Ele sorria para os vizinhos, e todos sorriam de volta. Dr. Claudius.

Sarah disse que existe um troço chamado falsa memória, e imagino que se Clara tivesse dito algo àquela altura, Claudius convenceria a todos que a coitadinha fabricou aquela memória e como, na prática, não dá para comprovar a veracidade, fica o dito pelo não dito, a palavra de uma criança contra a palavra do médico, o que uma fedelhazinha saberia mais que um doutor conceituado?

Ela saberia, mais do que qualquer um, que doeu. Cada dia, cada segundo.

E, de alguma forma, dói até hoje.

Embora ainda não saiba como termina a história de Clara porque preciso continuar escrevendo para desvendar este mistério.

Segundo dia que não janto com Cris. Acho que ela jantou antes de mim hoje. Não digo que fiquei triste, porque hoje não deu tempo de ficar mais triste – o nível subsolo da tristeza. Agora estou melhor. De alguma forma, escrever esta história que ninguém jamais vai ler, até porque vou jogar tudo no lixo assim que eu terminar, me ajuda. Um certo processo de cura perpassa meu espírito, embora não sei o que necessita ser curado.

Além de tudo.

De qualquer forma, o mistério de Clara não é só dela. É meu também. Preciso descobrir como vim parar aqui. Então, mesmo sem vontade, com as costas doendo, às vezes os olhos também, às vezes com fome, preciso continuar escrevendo. A porta voltou a se fechar. Este lugar não vai explodir. Não hoje.

Posso escrever mais amanhã.

Antes que tudo exploda.

00:23

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