sábado, 22 de março de 2014

Piano Para Pequena Clara - Dia 79


Nota: o nome desta história não é “Depois do Nanowrimo” (Nanowrimo, as iniciais de National Novel Writing Month, foi apenas a maratona literária onde escrevi grande parte da história, ano passado). Hoje optei por “Piano Para Pequena Clara”, mas continua sendo a mesma história...

* * * 

De tempos em tempos, ainda ouço o som do piano. Que é triste, mas lindo. Ou talvez lindo justamente porque é triste. E imagino que esta história vai terminar com um acorde grave de piano. Não tinha pensado nisso ontem, por isso é bom escrever todo dia, toda noite, toda hora. Tem um piano nesta história que me acalenta, mas também me enlouquece.

Tenho que pensar mais nesse piano, assim como tenho que pensar mais nos garotos Jonas e Marcos, que pouco participaram desta história até agora. Não importa, Sarah disse que não era para eu planejar nada, apenas escrever, sem pensar em mais nada, como tenho feito desde a primeira frase que escrevi aqui, e confiar que as palavras vão aparecer.

 De onde, se não sou escritora? – perguntei. 


 Apenas escreva, disse ela.

E então lembrei que também tinha uma foto de Clara sobre as costas de Maria, que estava de bruços sobre a grama. As duas estavam rindo, lindas, feito mãe e filha. Maria tocava piano, e Clara gostava de ouvir. Penso que Maria podia tocar para Clara dormir. É uma ideia interessante. Maria que tocava para alegrar, para fazer dormir, para fazer a dor ir embora, e nessa época não sei se a dor era tão grande. Claudius ainda não tinha voltado a beber. Aliás, parece que Claudius nunca existiu nesta história.

Apenas Maria tocando piano para Clara.

Por um segundo, tenho vontade de chorar, mas foi só um segundo que passou por mim feito sopro, e sei que Clara gostava de ouvir Maria. Em minha mente de pretensa criadora, era um piano negro sobre um tapete, e vejo Maria sobre um banco tocando as teclas delicada. Ela sabia tocar mais forte, mas acho que só tocava assim quando estava sozinha. Sim, quando ela estava sozinha, podia fazer o piano chorar, e chorar sozinha. Mas quando Clara estava ao lado, ela só queria passar seu amor de mãe.

Talvez, pensei agora, esta foto que acho tão linda, as duas deitadas, uma sobre a outra, sobre a grama, sorrindo como princesa e rainha donas de seu reino, a vida inteira pela frente, Clara tinha um destino maravilhoso por vir, e Maria tinha certeza que um dia aquela garotinha seria uma grande mulher, ou talvez não uma grande mulher, porque para as mães os filhos não crescem, mas ela seria feliz para sempre e para sempre não cresceria, não sentiria dor - esta foto podia estar em cima do piano, e Maria tocava olhando para ela.

E talvez tenha tocado olhando para ela até o fim.

3 comentários:

  1. Consigo imaginar e escutar este piano tocando essa triste melodia e fazendo com que as mais diversas emoções apareçam.
    Parabéns colega! E sabe né, quero o livro não mão quando publicar ;)

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    1. E aí, colega. Obrigado pelo comentário. Faz tanto tempo que ninguém comenta aqui, já que agora tudo é facebook (bom, mas tem também a fanpage do blog lá...:)

      Fico feliz que o texto tenha te tocado de alguma forma. Ah, quando tu diz "quero o livro na mão" tu quer dizer que vai comprar um exemplar no lançamento? :) Aproveita que por enquanto a leitura é free...:)

      PS - Continua escrevendo também...

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