Vamos tentar de novo.
De novo tive uma ideia muito boa hoje.
E de novo não anotei.
Talvez – provavelmente – nem fosse tudo isso, mas de novo
escrevo. E de novo olho para a página em branco do word, que me olha de volta,
e nada acontece. Começo a escrever sem ter a menor ideia de para onde o texto
vai, muito menos para onde vai este livro novo que estou buscando, e sempre
foge na última hora. Tem um diretor indiano que disse que faz filmes assim, que
não tem a menor ideia do que vai acontecer, ou o que seus atores devem fazer, quando
começa a filmar, mas se parar de escrever este texto sem assunto, ou talvez o
assunto seja a falta de assunto, mais uma ideia vai pela janela. Personagem,
preciso de um personagem. Homem, suponho, mas por que não pode ser uma mulher?
Comecei a escrever a história da Isis, publiquei alguns contos aqui anos atrás,
e parei, me disseram para continuar a história, para terminar. Mas talvez já
tenha terminado, e nem sei se ainda quero falar de Isis, anos depois.
Sei que hoje entreguei meu portfolio para a teacher Carmem
Castro, depois da prova, e vi o quanto preciso trabalhar, produzir, escrever
todo dia, ler todo dia – leia mais! – para chegar onde quero chegar. Talvez já
tenha chegado onde queira, que é exatamente estar escrevendo em uma tarde de
segunda-feira, dizem que o que a gente faz na segunda faz a semana inteira – e onde
afinal está este personagem, cadê o enredo? Talvez pudesse narrar a busca de
uma narrativa, mas metalinguagens não costumam agradar quem não é teórico ou escreve
ou pretende-se esperto. Gosto de metalinguagens, so what? Será que mais alguém
que me lê gosta? E agora, o que faço com este texto? Para onde ele vai, para
onde eu vou? Continuar escrevendo. Se estou em frente a um monitor e um teclado,
algo deve acontecer. Veja, algo deve acontecer: a coisa ameaça aparecer. E
então some.
Dizem que história a gente não inventa, a gente descobre.
Ela já existe, temos apenas que encontrá-la. Onde está você, História, onde
está você, Personagem? Silêncio. Mas pelo menos continuo caminhando, abrindo
espaço nesta floresta de palavras até que a luz apareça. Ela há de aparecer,
tenho fé. Tenho esperança, sim, ela há de aparecer. Enquanto isso, talvez leia
o Bibbi Bokken, que mademoiselle Luciana Kellermann me disse que está cheio de
metalinguagens. Devo uma reparação ao Jostein Gaarder por ter trocado seu
livro no Skoob sem ler. Ah, tu não leu? Não li e daí? Pelo menos li o livro que
me deram em troca, fui deixando para depois – falando em procrastinação – e o
tempo de Sofia passou. Novas leituras, novas urgências. Será que alguém vai ler
um texto deste tamanho no computer? Não importa, como disse Juan Carlos Onetti,
em seu A Vida Breve: não posso obrigar você a continuar me lendo, mas você não pode
me impedir de continuar escrevendo.
Então, escrevo. Daqui a pouco – espero – algo acontece.
PS – O nome do cineasta indiano que não consegui lembrar no
começo deste texto é Shekhar Kapur.
Ok! Pois, não podemos controlar o leitor, muito menos agradá-lo, tentar já é suicídio e metalinguagem é uma técnica para soltar os dedos, como tantas outras que existem por aí. Sei lá, tenho a impressão de que seu livro está surgindo e de que o protagonista, andrógino porque não se sabe (talvez nem seja necessário saber) se é homem ou mulher. Por certo é um ser humano, ou seria um ET fantasiado de gente? Não sei, continuo pensando nele numa praia, ou numa casa com vista para o mar, um apartamento talvez, um escritor obcecado (será assim que se escreve, com 'ce'?) pela História que não se mostra sem o véu. História pudica essa, há que saber conquistar. Eu sugeriria um jantar à luz de velas, vinho tinto, 'na madrugada a vitrola rolando um blues, tocando BB King sem parar...", coisa mais clichê! Há que se pensar numa História mais atraente, e nada real, porque a realidade é história de terror. Grande abraço!
ResponderExcluirAh, li a Sofia, há muito tempo atrás...
ResponderExcluirOi, Helena.
ExcluirPois sim, a história está surgindo, o personagem também. Ele pode estar em um apartamento aí na Alemanha ou aqui em Porto Alegre. Praia? Não tinha pensado, mas talvez esteja tomando um chimarrão vendo as ondas chegarem até perto de si. Ele também procura a sua história. Ele também quer ver até onde as ondas vêm, para onde elas vão. Por enquanto, ele está parado e neste exato momento em que escrevo, descobri agora, ele está sentado na beira da praia tomando um chimas. O que ele vai fazer depois? Não sei e ele – tenho certeza – também não sabe. Quando ele decidir, vai me contar. Enquanto isso, e enquanto ele se distrai, posso fazer eu mesmo um chimarrão e ler. Ler e mergulhar nas palavras, já que ele não quer mergulhar no mar – mas o mais provável é que ele saia de lá em breve. Andrógino? Talvez, isso também rende pano pra manga. Um personagem que é, mas não é, que quer, mas não quer. Que é, mas podia não ter sido. Ou não é, mas podia ter sido. Encontros e desencontros da vida.
Obrigado pela contribuição. Obcecado é com “c” mesmo, porque vem de “cego” (e obcecados ficamos cegos). E a Sofia, que é um bom nome de personagem (taí, um personagem com o nome de Sofia...) ficou para trás, mas Bibi Bokken talvez me veja.
Abraços e escrevamos!