Quarta-feira,
4 de janeiro de 2017
16:26
Faz
tempo que não escrevo. Não que alguém se importe, porque sei que ninguém jamais
vai ler esta merda. E jurei mais uma vez que ia desistir para sempre de contar
esta história sobre o nada, essa ladainha que comecei a escrever nem sei por quê.
Mas lá fora troveja. Começou a chover. E estavam ouvindo uma música chamada “Nettie”.
Perguntei o que era aquilo, me disseram que hoje seria aniversário de Peter
Steele, que estaria completando 55 anos hoje.
Ouvi
e ouvi de novo.
Lá
fora chove. Chove, Maria escreve. Esse calor que odeio talvez diminua.
A
chuva aumenta, talvez venha uma tempestade por aí.
Será
que existe uma relação porque estou escrevendo agora?
Não
sei, mas agora que comecei, vou seguir com esta bosta e ver até onde vamos. Sei
que me disseram que o Peter se matou, ou teve uma overdose – que é mais ou
menos a mesma coisa – e escutando isso aqui, pouco antes de começar a chover,
vi em minha mente um filme cinza, com pessoas muito brancas, talvez vampiros,
veias saltadas, um carnaval para usuários de drogas injetáveis, e o branco contrasta
bem com o sangue vermelho, porque é vermelho de vida que se recusa a deixar de
existir.
Que
encontra um sentido na dor.
Somos
todas Garotas Com Fendas.
Saí
das Alas Gradeadas faz algum tempo. Sarah deve ter planos, porque agora estou
em um lugar chamado A Casa, também dentro deste asilo que me parece do tamanho
da Via Láctea.
A
menos que eu tenha morrido e isto aqui seja uma espécie de umbral, o que também
não descarto.
Vi
de passagem a Garota Bossy.
Como
eu disse, pessoas entram e saem desta história, e ainda não entendo por quê.
Aliás, não entendo merda nenhuma. Mas sei que se eu ficar muito tempo sem
escrever esta história para dentro e fora de mim, algo acontece.
Dizem
que esse Peter era alguém bem triste.
Ele
era um Menino Com Fendas.
Sim,
eles existem aos montes, espalhados por aí.
Não
tenho nada para escrever, como jamais tive, mas por uma força que ainda não
entendo, uma pulsão que grita para sangrar e por isso escrevo, continuo.
Talvez
lá pela última frase algo aconteça.
Não
sei se verei a Bossy de novo, apenas escrevo as coisas em tempo real.
Papai
que quis ficar com a filhinha.
Que
merda. Eu fujo, mas tudo deságua nela: sweet Lady Clara.
A
infância que se perdeu, a adolescência que não sei se houve. Talvez todos
morram no fim, um incêndio consuma tudo. Mas ainda não sei como se chega lá. Ou
sei, mas não sei que sei. Ou dói demais saber que eu possa saber, e por isso me
enrolo para terminar esta merda de história.
E
contar como termina a história da pequena Clara.
Ou
de Maria, a mãe, cujo sorriso de dor rima com esta música. Com este asilo. Com
esta chuva, que parece diminuir agora, enquanto os trovões seguem. Lembro que
logo que conheci a Bossy tinha sonhado com Maria, a mãe, apontando um revólver
para Claudius, Doutor Abusador, e houve um estouro, muito, muito alto.
Não
sei se pegou em Claudius, não sei se pegou em... Jonas.
Em
minha mente de péssima criadora, talvez tenha pensado que Jonas tenha algum
problema mental. Isso tem alguma coisa a ver com o tiro? Ele era mais devagar,
vivendo em seu mundo. Como algumas das pessoas que habitam A Casa. Presas em
seu sonho.
Como
eu, pensei agora.
Por
que lembrei do sonho agora?
Por
que a chuva parece diminuir?
Um
incêndio e uma chuva.
Meu
deus, é assim que termina?
Ainda
ouço a música, não o piano, não hoje. Mas escuto e ela se comunica comigo. A
trilha do asilo e um céu cinza, lindo como uma cachoeira de sangue escorrendo
de um braço muito branco. O sangue que insiste em viver.
O
abismo se aproxima. A chuva diminui.
Presos
dentro do sonho. Sei como termina esta história, mas dói demais saber que sei.
Sarah e esses psicanalistas do inferno. Mas no dia de hoje cheguei o mais perto
que consegui, como acho que sempre chego.
Encontrar
um sentido na dor.
Stay
negative, ele dizia. Sorrimos e abençoamos. Estamos entre nossos iguais.
Feliz
aniversário, Peter.
16:58
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