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Tive uma ideia sensacional para meu livro novo. Sério, a
ideia era muito boa. Era sobre um personagem, na verdade, era um personagem, e
ele ia resolver toda a narrativa para mim, a história ia se contar sozinha, eu
só teria que escrever, a história é guiada por seus personagens, a história é o
que seus personagens fazem, nem importa muito como eles são ou o que pensam,
talvez o que pensam seja importante, mas o essencial é que o personagem tenha
um conflito dentro dele que faça o Leitor querer prosseguir, saber o que vai
acontecer, querer virar as páginas, partindo do princípio que o livro que ainda
nem começou a ser escrito, ou mal começou a ser escrito, vai ser publicado em
livro, livro de verdade, de papel, que dá pra pegar, cheirar e até – heresia! –
sublinhar algumas passagens.
O problema é que eu estava fazendo nem lembro o que e não
anotei minha ideia genial. E de tão genial, e especialmente porque não anotei,
eu esqueci. Sério, tentei pescar na memória, mergulhar no mar sem fundo do
inconsciente, e necas. Meu personagem, seu conflito e a história sumiram sem
deixar vestígios. Voltamos a estaca zero. Lembro que era um homem (bom, já é um
começo) e talvez ele estivesse deitado, talvez estivesse de camisa branca. Mas por
que deitado e, sobretudo, por que de camisa branca? Não faço a menor ideia.
Talvez ele estivesse em um apartamento, talvez sentado em um sofá da minha
infância, que lembro vagamente de ter almofadas quadriculadas cor-de-vinho. Era
esse mesmo o cenário? Que droga, só preciso de uma pista, um fio de cabelo,
qualquer coisa que dê um pontapé na história e me faça querer escrever amanhã.
Mas pelo menos até aqui, que talvez seja o meio, talvez seja o fim deste
segundo parágrafo, meu personagem e seu conflito continuam desaparecidos.
De tudo isso, o bom é que fechei o facebook – onde ninguém
lê (repito: ninguém lê, tirando bobajada) e vim escrever. Na verdade, posso
dizer que neste exato momento o facebook me ajudou a escrever, porque este blog
de muitos acessos e poucos comentários, o qual sempre compartilho na wasteland
do facebook, está ganhando um pedaço de literatura, que se não é literatura “séria”
(as aspas são propositais), é literatura. Provavelmente não vou encontrar meu
personagem antes do fim do texto. Já perdi tempo procurando o maldito cabo do
celular para tirar fotos dos meus livros e colocar no face, a única coleção de
fotos que vale a pena a gente perder (ou passar) tempo olhando. Aliás, belíssima
ideia da Luciana. Mas não achei cabo nenhum, nem coloquei foto, e pior: mal li
a parte que tenho que apresentar para o trabalho de Psicologia das Relações
amanhã de manhã (é óbvio que vou ler e estudar daqui a pouco, mas a literatura –
as always – foi mais urgente).
Nada de personagem e o texto chegou ao fim. Tudo bem, daqui
a pouco ele aparece. É só continuar escrevendo.
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