13 de julho de
2015
22:42
Faz, sei lá,
umas duas semanas que não escrevo. E não tenho nada para escrever, como jamais
tive desde a primeira linha que escrevi nesta história que nem história é – a
não ser que está chovendo. Está chovendo tanto que pensei que, de novo, a vida,
ou isso que restou e que espero que seja vida, está me convidando a escrever.
Chove, Maria escreve.
O fim desta
história talvez seja em um dia chuvoso.
Uma noite, não
sei.
Tive um sonho e
nem sei se é sonho ou realmente aconteceu: todas haviam ido embora. Um clarão.
Talvez até no pátio lá embaixo. Tipo uma explosão nuclear.
Ó, meu deus,
está voltando.
O clarão de um
incêndio. Que talvez tenha matado Maria, a mãe mais linda do mundo. Maria, como
eu.
A pequena Clara.
Que não sei se chegou a crescer, a menina que deveria existir apenas em minha
imaginação, a menina, a garotinha, a princesa que é a razão de tudo isso aqui,
mais do que posso imaginar. Meus dedos têm vida, eu não tinha nada para
escrever algumas linhas atrás, e agora sou trem desgovernado rumo ao penhasco,
o abismo para onde me dirijo, do qual fujo e que sempre me encontra.
Não consigo
parar de escrever, maldito inconsciente.
Sarah, desgraçada.
Somos governados por processos inconscientes. Velho tarado maldito.
Um clarão. Hoje
não vi a Srta. Vygotsky, nem a Chica Tortoni, nem Lady Brownie ou Lady Ballet.
Talvez o Garoto Skinner estivesse no sonho, mas ele parecia triste. Foram todas
embora e só o que ficou em minha mente foi o clarão. O chafariz de Cheshire
também desapareceu. Talvez seja assim que comece aquilo que os outros chamam
assim com alguma pressa de loucura.
Claudius poderia
ter morrido, queimando e agonizando, depois de tudo que fez para a pequena
Clara, a bonequinha que deixou de ser filha para ser bonequinha do papai,
boneca inflável com sentimentos e memórias, maldito seja. Claudius poderia ter
morrido por todas as vezes em que bateu em Maria, pela vez que voltou a beber
sobre o corpo nu da cunhada Lara, cunhada vadia, tia vadia, em vez de cuidar de
sua esposa, que não por acaso sempre se internava em hospitais.
Lá fora troveja.
Minhas costas
doem.
Sou a Maria
frágil.
Frágil feito uma
boneca, pensei agora.
Uma boneca que
quer voltar a vida.
Para deixar a
alma da mulher, mãe e filha, descansar.
E encontrarem
sua paz.
E sei que
encontraremos, garotas.
Encontraremos
este paraíso que é tudo no que penso cada vez que venho aqui e desço um pouco mais.
22:57
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