26 de junho de
2015
23:31
As garotas
estavam vestidas com roupas que lembravam o arco-íris. Parecia algum tipo de
comemoração, como as que às vezes acontecem aqui, e a um primeiro momento
pensei que elas estavam de pijamas. Então Cris me contou que estavam celebrando
a legalização do casamento gay no Estados Unidos.
Mas não é isso o
que eu queria contar. Apenas registro porque foi uma das últimas cenas que vi
antes de entrar para cá.
Pode ser
inconsciente – falando em pijamas – mas sonhei com a Garota Cheshire. Ela
estava aqui, em volta do chafariz que ela adora, lá embaixo e quando eu disse
que achei que ela não estava mais aqui, ela com os cabelos alisados – e sim, de
pijamas – me disse que veio me ver. E perguntou se eu estava escrevendo.
Quer dizer, ela
sabe que não escrevi mais.
Talvez por isso
o sonho.
E então decidi
vir para o meu quarto-cela. Ver se acontece alguma coisa, apenas pensando em
voz alta – ou melhor, pensando com os dedos.
Estou
enferrujada, mas não importa. Vou escrevendo e daqui a algumas frases a chave
vai aparecer.
Sim, Clara.
Suspiro ao
escrever esse nome.
Fazia tempo que
não escrevia.
Sweet Lady
Clara.
A garotinha que
se perdeu e que tento trazer de volta a vida, de dentro de mim. Fazer nascer de
mim. Hmm, a chave está vindo. Maria, a mãe, se manifesta. Preciso dar a luz a
Clara e esconder essa minha filha, que nem sei se é minha ou filha, mas filha
de alguma maneira, do velho Claudius.
Dr. Monstro Do
Pântano.
Dr. Médico
Abusador.
Queime no
inferno.
Comentei com
Sarah que tinha um homem na minha história que volta a beber depois de dez anos
em abstinência. Você pode mudar a história, disse ela. Não sei se posso. Não
sei se a de Claudius. Mas talvez a de Clara. E acho que é isso que procuro a
cada noite, cada vez que juro nunca mais escrever esta merda de história e ela
me chama, se apodera, tipo possessão – a história de Clara que urge por ser
contada.
Mas não há
história nenhuma, apenas inventei tudo isso porque Sarah disse: escreva. Conte
uma história. Invente. Qualquer coisa. Se lhe vier a mente, escreva.
E posso jurar
que vi Lara vestida em uma dessas roupas de arco-íris.
Lara, a vadia.
Lara que parece
com Clara, não posso deixar de registrar que pensei nisso.
Um arco-íris
para a história de Clara, por que não?
Cores no fim de
tanto preto-e-branco.
Suspiro uma vez
mais.
Penso em
Cheshire rindo em volta do chafariz. Lady Ballet que poderia dançar com Lady
Brownie, se elas duas dançassem – mas em meu sonho elas dançam. E Sarah, a doce
psicopata psicanalítica que me colocou nessa loucura, a que me diz do afeto
muito intenso que a gente não pode dar conta, citando o velho tarado, sorri.
Sarah que sara.
Um arco-íris e
um piano.
Que é tudo do
que preciso neste começo de madrugada.
Um arco-íris na
madrugada que se chama esperança.
23:49
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