Sábado, 10 de maio de 2014
21:27
Conte-me uma história.
Foi tudo o que Sarah disse. Conte-me uma história.
Contar o quê, se não sou escritora?
Conte-me uma história. Escreva.
Então comecei a escrever. Escrever sem saber. Maria Que Não Sabe De Nada.
Preciso de um personagem. Então apareceu esse homem. E em seguida uma mulher. Uma mulher e uma criança. E uma irmã, que mais tarde descobri ser tia da criança, cunhada do homem, que demorei a batizar. Sarah me disse que quando a gente sofre um trauma a gente tem dificuldade para simbolizar; logo, não consigo criar nomes, entre outras coisas. Mas temos Clara, o nome dessa criança, que sofria abuso do homem, que batizei de Claudius. Seu pai, marido de Maria, a mãe, em quem batia e que se internou – eu diria uma, mas acredito que foram varias vezes. O nome da irmã de Maria era Lara.
Lara parece com Clara.
Fiquei uma semana sem escrever esta história, e cada vez mais ela parece uma incógnita para mim. Jantei com Cris mais cedo hoje, e enquanto ela foi tomar banho, vim aqui escrever. Passeamos pelos campos verdes hoje e me perguntei: será que não estou morta? Será que não estamos ambas mortas e isso aqui é um tipo de hospital no céu? Será que é isso? Sarah, a quem eu chamo de psicanalista, doida como qualquer psicanalista, será que não é alguma espécie de anjo? Será que o fim de tudo isso é este: estou morta e não sei?
Sarah sabe das coisas, mas esses psicanalistas são meio sádicos: eles não podem dizer o que já sabem. Eu tenho que chegar às minhas próprias conclusões. É como se ela me pegasse pela mão e me conduzisse por uma casa escura, e fosse iluminando quarto por quarto e depois, no fim da jornada, perguntasse a mim: onde você quer ficar?
Mas minha dor não vai passar enquanto não descobrir como termina a história de Clara. Em minha mente ouço notas soltas daquele piano triste, e talvez aí esteja a chave para algumas coisas. Acabo de lembrar que amanhã é dia das mães.
Maria, a mãe.
E penso em Clara e penso em Maria.
E penso no piano.
Cris saiu do banho, veio me incomodar um pouco, embora de alguma forma ela também me incentive a continuar escrevendo esta história. A sair do outro lado deste túnel.
Então, respiro fundo. E engulo meu choro. Vou chorar para dentro. E aguentar mais um dia.
Feliz dia das mães, Maria.
21:44
Não há ato mais belo do que escrever. Com a escrita tu imagina, sente, desperta para um mundo que jamais foi visitado.
ResponderExcluirAquele que tem o dom de escrever tem esse mundo nas mãos!
Então vamos produzir para transformar essa realidade obscura em um pouco mais de cor ;)
Que show. Faz tanto tempo que ninguém comenta aqui, já que agora tudo é facebook...:)
ExcluirBonitas palavras. E bonita visão do que seja escrever, até porque é mais ou menos isso mesmo (entre outras coisas). Vamos produzir, sim, e colocar um colorido neste preto-e-branco. Quem sabe até um preto-e-branco E colorido...:)