6 de agosto de
2015
23:30
Uma madrugada
está para começar e sou a rainha disto aqui. Cheshire estava comigo conversando
em volta do chafariz que ela adora, que às vezes acho que é o segredo de seu
sorriso, da garota que é mais sorriso do que garota, e perguntou se eu estava
escrevendo, se tinha escrito na chuva que fez esses dias. Eu disse que não.
− Ainda tem
coisas que você precisa descobrir.
Me arrepiei
quando ela disse isso.
Não tive coragem
de perguntar “como assim?”.
Será que
Cheshire sabe da verdade?
Será que Lady
Ballet, que anda correndo por aqui para ficar bonita para o seu maluquinho,
sabe?
E Acácia, a doce
garota que se perdeu em algum lugar dentro de si mesma?
E Dafne, que me
disse que descobriu cores novas, ela também enamorada por outro desses malucos
daqui?
Lady Brownie, a
garota que vive em slow motion, a rainha dos doces, a garota que queria
esquecer, assim como eu queria, e talvez no fundo não queira mesmo, lembrar?
O Garoto Skinner
que também acha que loucos se entendem, se amam, se completam? Ele com suas
teorias loucas de que não importa o que a gente sente ou pensa, apenas o que
faz, e será que Blossom, a garota que também escreve escondidinho, Sabby que
vejo pelos corredores de vez em quando ambas estamos na mesma realidade – o que
não é, convenhamos, muito frequente.
Cris, querida
Cris.
Será que elas
sabem?
Acho que todas
têm suas teorias.
Sobre a
Mitologia de Maria.
A Chica Tortoni,
a Srta. Vygotsky que, disseram, saiu do asilo. O que elas sabem?
Sei que Sarah
disse que vai voltar a ministrar umas aulas para quem quiser. Tipo assim, para
entendermos melhor nossa loucura. E fazermos as pazes com ela.
Delírios, diria
Cheshire.
Lady Ballet,
não, Lady Brownie, lembrei agora, disse que queria dançar uma valsa.
Acho que há mais
de um jeito de dançarmos essa valsa.
As garotas que
pararam de dançar me convidam.
Assim como,
neste momento, porque tudo é sobre ela, eu queria dançar com Clara. A
princesinha, a joia rara, a joia do papai. Não, do papai, não. Parece que no
próximo domingo é dia dos pais. Ela não era a joia do papai porque o papai era
um filho da puta e espero que ele esteja queimando no inferno, maldito Doutor
Abusador.
A joia da mamãe.
Por mais que
ainda doa, e que eu não tenha jamais o que contar sobre esta história que nem
história é, apenas um emaranhado de conexões dentro desta floresta escura que,
acho, é meu inconsciente, no fim do parágrafo, no fim destas frases sem fim,
ainda brota esperança.
Sim, Cheshire,
ainda tem coisas que preciso descobrir.
Respiro,
cansada. O calor volta aos poucos. Queria chuva, mas não posso esperar por ela.
Nem Clara. Nem Maria, a mãe. Não podemos esperar pela chuva. Mas sei que ela
virá. E nos limpará a todas. Enxaguará nossas cicatrizes levando este passado
do qual não lembro, mas que dói até hoje, a fenda que é a fenda de todas nós,
embora.
Para longe.
Lá onde brota a
esperança.
No fim da frase.
No fim de tudo.
23:50
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