21 de julho de 2014
20:59
A porta fecha mais cedo hoje. Também porque estou com fome,
então escrevo logo e me livro. Posso comer mais tarde. Preciso escrever, preciso
me livrar. Alimento a ideia de reler alguns desses escritos, mas enquanto não
faço – se fizer, ainda não decidi –, tenho que registrar que a vida, ou aquilo
que chamo de vida, parece mesmo estar me deixando sinais para que eu escreva a
história de Clara, e continue colocando as pecinhas neste quebra-cabeça.
Um quebra-cabeça que já deve ter pertencido a alguém, como
aquela garotinha que tento encontrar a cada peça que vou colocando aqui. O
puzzle da pequena Clara.
Que também é o puzzle de Maria, a mãe.
Um quebra-cabeça, feito o brinquedo roubado daquela criança,
que poderia ter sido feliz. Poderia ter sido alguma coisa, qualquer coisa.
Mas estou viajando, como sempre. Queria pensar nas pistas que
a vida oferece para eu seguir nesta busca. A primeira foi semana passada,
quando li a reportagem de um homem de São Paulo que não guarda nada na memória
por mais de quatro dias e por isso precisa escrever sem parar.
Sim, acho que é mais ou menos isso que faço aqui, e por isso
devo me manter escrevendo, cavocando nesta caverna escura do inconsciente (pelo
menos é o que imagino que Sarah imagine – esses psicanalistas que querem nos
pegar pela mão e iluminar nossos quartos escuros e depois nos perguntarem onde
queremos ficar...).
Hoje também vi a reportagem do médico e da madrasta que
assassinaram o garotinho para colocarem a mão na herança dele. Faz sentido.
Pensei se o Dr. Claudius não quis matar Clara, com a ajuda de Lara.
Lara não era, tecnicamente falando, madrasta de Clara.
Embora eu já tenha cogitado que exista uma associação maior entre as duas,
porque Clara é parecido com Lara. Meu deus, talvez ela tenha sido batizada em
homenagem a maninha de Maria, a mãe. Claudius deve ter sugerido e talvez –
talvez, não sei – Maria simplesmente tenha achado um nome bonito. Mas Claudius talvez
já tivesse de olho em Lara. A gostosinha, songa-monga, irmãzinha que tinha mais
tempo e mais estrutura emocional que Maria para se arrumar. Para parecer
bonita. E de fato era.
Putinha.
Então talvez Maria tenha adoecido e começado a frequentar os
hospitais. Lara deveria ter cuidado de Clara, mas cuidou apenas de Claudius.
Deu pra ele na cama de Maria. Talvez Lara considerasse Maria, a irmã mais
velha, uma rival. Duas mulheres, um homem. E não apenas um homem, mas um
homem-médico. Dr. Claudius. E quis Lara, ou não se cuidou e aconteceu, um fruto
disso tudo. Marcos, o garotinho que cresceu sem pai. Não sei se Lara deu
desculpas de porque teve um filho e o pai não quis assumir. Mas o pai, embora
ninguém soubesse, estava ali logo ao lado. Com a esposa. E com os dois filhos,
os oficiais.
Clara e Jonas.
Preciso escrever esta merda de história até o fim. E nunca,
jamais, sei o que vou escrever. Mas algo acontece, e deve continuar
acontecendo.
Lá fora faz frio. Mas não está chovendo hoje.
Olho para as cicatrizes em meus braços, depois o olho
escorrega pelas minhas queimaduras.
Suspiro.
O mistério permanece.
Vi Emília hoje, que parecia mais feliz. Às vezes acho que
ela vai se quebrar ao meio. De alguma forma que mal consigo descrever, ela
parece se doer toda. Mesmo quando está feliz, posso enxergar no fundo mais fundo
dela e ver que ela também tem suas correntes para carregar. Como Lady Brownie,
cujo doce não senti mais o cheiro. Como Jade, cujo namorado também não vi mais
aqui. Como Cris.
Como eu.
21:24
Olá, Maria!
ResponderExcluirUma dica de leitura: http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2014/07/guest-post-existe-meia-recuperacao.html
Obrigado pela dica, Leitora. Vou ler, sim.
ExcluirMary