Domingo,
21 de dezembro de 2014
01:00
Faz
pouco choveu.
Senti
a chuva. Vi os relâmpagos que transformaram a noite em dia, senti o vento frio
que me trouxe esperança, os pingos que refrescaram esta alma sempre enferma. A
chuva que me convida a escrever. Não chove mais agora, enquanto escrevo em meu
quarto-cela com a porta fechada, depois de ter jantado com Cris, só nós duas
naquela sala deserta. Mas choveu o suficiente para trazer um pouco de
esperança.
Talvez
esta história termine em um dia de chuva e a chave que procuro, e que me
arrepia só de escrever pensando nela, e me traz de volta à memória, a memória
que não lembro, o piano, talvez essa chave esteja lá.
Confesso
que passei mal com a ideia de eu poder ser Clara. Ou eu ser Maria, sua mãe. Ou
mesmo Claudius ser uma projeção minha, e eu que talvez já tenha sido abusada –
e se for isso, sou quase grata por não lembrar de nada – na verdade seja a
abusadora. Ou ser Lara, a irmã de Maria, a mãe, tia de Clara, com quem Claudius
tinha um caso e um filho não assumido chamado Marcos. Lara, a quem sempre chamo
de vagabunda. E se for eu a puta de quem tenho raiva?
Suspiro
ao pensar nessas merdas todas.
Mas
talvez sejam apenas paranoias da minha cabeça.
A
chuva me trouxe paz e no dia de hoje não pensei em nada disso. No dia de ontem,
na verdade, porque já passa da meia-noite e uma nova madrugada começa. Acho que
hoje também começa o verão. Não gosto de verão. Não sei qual a relação. Detesto
o calor e talvez – tenho que escrever isso pois foi a ideia que veio em minha
mente neste exato instante – seja porque às vezes ainda penso que esta história
também termina com um incêndio.
Todos
morrem?
Me
arrepio.
Ainda
não sei.
Me
arrepio tanto que quase paro de escrever.
Mas
lá desta caverna sem fim, e talvez seja a caverna do inconsciente, como diria
Sarah, vem um som. O piano. E suas teclas que são tristes, mas que hoje também
me dão esperança. Talvez esse piano seja o coração desta história: uma dor que
se transformou em algo bonito.
O
piano que Maria tocava para sua pequena Clara.
Me
arrepio uma vez mais.
Suspiro.
Tenho vontade de chorar.
Mas
não é de dor. Tenho vontade de chorar e não sei se é tristeza. Talvez seja
nostalgia. Sim, tenho vontade de chorar.
De
saudade.
Talvez
seja isto: cada noite que venho aqui escrever, no fundo, e só agora me dou
conta disso, é meu desejo, minha ânsia, meu sonho, de algum dia, nem que seja
meu último dia de vida, algum dia: ouvir este piano mais uma vez.
01:16
Às vezes é preciso chorar, chorar para poder sentir e finalmente saber o porquê se chora.
ResponderExcluirObrigado, Daf. Garotas com fendas se entendem.
ExcluirCom carinho, Mary