domingo, 2 de março de 2014

Depois do Nanowrimo – Dia 68


22:43

Lembrei que existe um livro chamado Claudius, o Imperador. Tem uma pequena biblioteca aqui, e lembrei da capa preta do livro, sobretudo do nome Claudius. Devo eu chamar o misterioso, ou assim você se refere a ele, homem alto e moreno de cabelos lisos de Claudius? Bem, personagens precisam de nomes, e se esse nome me apareceu, partindo do princípio de que estou seguindo o mandamento psicanalítico de caminhar pela estrada de migalhas de pão deixadas como guia pelo inconsciente, deve ser por algum motivo.

Pelo pouco que li sobre dicas para escrever melhor, lembro que aconselharam: escreva frases curtas. Mas não sei escrever. Apenas escrevo. E se elas vão se alongando é porque vou pensando e escrevendo, e meu pensamento não para enquanto a história vai escrevendo a si mesma. Por isso frases maiores. Fluxo de consciência? Não sei nada disso. Aliás, não sei nada de nada. Sou a Maria Que Não Sabe De Nada.

Maria Que Esqueceu Sua Própria História.

Por isso escrevo.

Talvez você já tenha entendido isso, e hesito em pensar sobre, mas a verdade é que estou tentando resgatar a mim mesma. Mas para isso tenho que contar a história de Clara até o fim. Imagino como termina a história daquela família, como termina a história de Claudius – vou adotar esse nome, pelo menos por enquanto – e da pequena Clara. Ainda precisamos saber de Maria, a mãe, e de Lara, a irmã, tia de Clara. Os meninos, Jonas e Marcos. Tenho que pensar mais sobre eles. Jonas e Marcos eram primos, mas podiam ser meio irmãos. Provavelmente eram, já que Claudius dormia com Maria e, por baixo do pano, com Lara.

E, não contente com isso, dormia com Clara.

Homem alto e moreno de cabelos lisos, maldito seja.

Houve um incêndio? Eu acho que sim, mas ainda tenho dúvidas de como começou.

Mentira, eu já sei o que aconteceu, mas estou tentando mudar os rumos da história.

Será possível?

Talvez seja inconsciente pensar em um incêndio porque eu mesma tenho marcas de queimaduras nos braços.

Tenho várias marcas. Algumas visíveis.

Outras não.

E temo em pensar que essas últimas são as que mais doem.

Daqui a pouco vou jantar com Cris. Estava com saudades dela. Não posso dizer, de maneira nenhuma – ou quase nenhuma – que estou seca de sentimentos. Gosto da Cris. Acho que ela gosta de mim também. Não sei se ela alimenta algum sentimento a mais. Como eu disse, e continuo dizendo: não quero falar de sexo agora. Apenas escrevo, ainda sem saber no que vai dar. Mas me conforta um pouco saber que você está aí. E que Clara está viva mais um dia. Porra, eu também estou viva mais um dia. Nem sempre isso é bom.

Mas estou viva.

Então decidi viver hoje.

Portanto devo continuar escrevendo.

Claudius, que era médico.

Li uma reportagem sobre um médico que se matou quando tornaram público que ele abusava da própria filha.

Coitadinho.

Espero que ele esteja queimando no inferno.

Foi isso o que aconteceu com Claudius?

Achei que você sabia do segredo desta história, mas ou você não sabe, ou definitivamente não vai me contar. Sarah não pode me dizer. Esses psicanalistas não dizem o que só eles veem em nós, a menos que a gente veja antes, ou veja também. Não entendo nada de psicanálise, mas talvez Sarah saiba o que faz.

No fim tudo isso vai fazer sentido. Tudo isso.

Mas preciso de você. Preciso de Clara. Preciso de Jonas também.

Aliás, neste momento me deu saudades do Jonas, não o personagem da história, mas o meu irmão. Que, confesso, em minha mente são meio parecidos. Não importa. Confio que algum dia, talvez quando eu terminar de escrever esta história esdrúxula, os pontinhos vão se encaixar.

Até lá, vou estar esperando.


23:06

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