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Jantei com Cris hoje. Ela é uma ótima companhia. Talvez, se
eu gostasse de mulher, namorasse com ela. Mas não gosto de mulher.
Nem de homem.
Não quero falar de sexo agora.
Sonhei com um branco muito branco. Dizem que os esquimós
veem vários tons de branco por causa de neve e sei lá mais o quê. Mas o branco
que vi foi mais parecido com uma explosão nuclear. Sim, uma explosão.
Talvez esse tenha sido o incêndio que acontece nesta
historiazinha que Sarah me incumbiu de escrever, e que noite após noite reluto
em escrever. Porque dói escrever esta merda. Mas talvez eu tenha me acostumado
com a dor. Por isso escrevo.
Maria Que Escreve Com Dor.
Pensei em Claudius – de vez em quando lembro o nome dele –,
a quem sempre me refiro como o homem alto de cabelos lisos e negros, e em como
seus vizinhos achavam ele simpático. Imagino como eles também achavam ele um
ótimo pai e ótimo marido. Um cidadão exemplar. E imagino que ele era mesmo um
ótimo vizinho. Sorria sempre, cumprimentava a todos. Como Sarah disse que não
era para pensar, nenhum dia, apenas escrever o que viesse em minha mente,
continuo fazendo isso, desde o primeiro dia. Sou uma péssima escritora, mas
pelo menos estou cumprindo com meu tema de casa. Sempre sem a menor inspiração,
e geralmente sem vontade. Mas estou fazendo o que posso.
Claudius que era tão legal e gostava tanto de todo mundo e
gostava tanto das mulheres que não se contentou em ficar com a esposa Maria. Teve
que ficar com a cunhada Lara e a filha Clara.
Maldito.
Será que esse branco nuclear foi o fogo que consumiu a todos
no fim?
Não sei se todos morrem no fim, mas alguém tenho certeza que
morre.
Como você tem certeza, se não programa as cenas de sua
história?
Não sei como sei. Só sei que sei.
É o que aparece em minha tela mental. Quero mudar o fim,
ainda tenho esperança de que algo surja em minha mente e na última hora eu
possa mudar o final. Mas no fundo sei que não posso. Apenas tenho que ser fiel
ao que aparece em meu cérebro de escritora iniciante e registrar. É assim que
funciona nesta história.
Não quero que Clara morra.
Nem Maria.
Claudius, não sei. Acho que ele merecia morrer.
O que você acha?
Talvez ainda haja uma reviravolta. Talvez ainda haja
esperança.
E se houve, por Deus, esse deus que nem sei se acredito, e
acho que não acredito, mas para o qual rezo agora, e só agora: se ainda houver
esperança, quero encontrar.
01:27
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