sexta-feira, 14 de março de 2014
Depois do Nanowrimo – Dia 76
22:40
Alguns dias se passaram.
Já tinha desistido oficialmente de escrever esta maldita história.
Estava até pronta para jogar tudo fora, e ter a certeza de que ninguém jamais leria esta porcaria. Mas Sarah passou por mim e perguntou: terminou a história de Clara? E tudo que consegui dizer, quando ela me encarou no corredor com essa pergunta, tão assim à queima-roupa, baixinho feito criança com medo se escondendo para não ser encontrada, foi:
- Não.
E ela saiu, sem uma única palavra.
Malditos psicanalistas.
Sempre deixam a gente com a bomba na mão. Na verdade, tiram o pininho da granada e nos pedem para segurar.
Acontece que depois daquilo eu soube que teria que retomar a história de Clara.
De novo, estou com fome, a porta está fechada, talvez não veja Cris hoje. Logo, escrevo. Ou melhor, tenho que escrever.
Mas em minha mente, Clara estava de bico, erguendo os braços para o céu e pulando, como se quisesse voar. Maria, a mãe, estava junto, cuidando dela. Maria cuidava de Clara. Isso deve ter sido antes de tudo acontecer. Em minha mente, Clara estava menorzinha. E ela era tão linda. Uma princesinha. Me arrepio ao escrever e por um segundo tenho vontade de chorar, pensando na princesa que ela foi, que deveria ter continuado a ser, quem sabe ser uma rainha. Rainha Clara. O Reino de Clara.
Suspiro. Me dói escrever de novo. A dor volta, mesmo que eu saiba que, de alguma forma, ela vai me curar. Merda, ela vai me curar sim. A dor vai passar, e ela vai fazer um sentido. O que acontece com Clara no final? Antevi um final não muito amistoso para esta história. Mas ainda tenho esperança. Sim, porra, esperança.
Maria Esperançosa.
Maria Que Se Recusa A Morrer.
Arrepios passam pelos meus braços de escritora de meia tigela – mas que se dane, sou a escritora que precisa chegar até o fim disto tudo. Talvez melhore se eu descrever Clara feliz, pulando em uma parada de ônibus, fazendo graça para Maria, sorrindo.
Meu deus, sorrindo.
Queria mudar o passado que não pode ser mudado. Queria voltar.
Maria, salve Clara.
O homem alto e moreno de cabelos lisos talvez ainda não tivesse voltado a beber. Mas ainda não sei se aquelas coisas aconteceram desde sempre. E suspeito, e tenho medo de que, sim.
Mas elas não duraram para sempre.
Houve um fim.
E vamos chegar ao fim disso, Lady Clara.
Vamos terminar esta história, Pequena Clara.
Eu não morri.
Talvez você também não.
22:56
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