22:11
Estou de volta ao quarto. Um tanto
triste, talvez apreensiva – ou apenas a necessidade de escrever mais um pouco
desta droga de história. Pensei em escrever uma carta para Sarah. Talvez faça
isso depois. De alguma maneira, escrever me dói, mas estou aos poucos
entendendo (aceitando?) que preciso passar por essa dor.
Pensei no piano, mas não posso dizer
que estou escutando alguma coisa. Foi mais como uma lembrança. Dizem que a
gente inventa nossas lembranças. Não sei se inventei, mas lembro do piano. Lá
fora chove. Escrever mexe funduras em mim que mal consigo explicar – aliás, não
consigo explicar de maneira nenhuma. Por isso escrevo. E vou escrever até
passar a dor. Até lembrar de mais alguma coisa. Escrever para saber como
termina a história de Clara. Ela precisa ter um fim. Não posso deixar tudo pela
metade. Pensando bem, posso, mas talvez não deva.
Em minha mente de escritorazinha, e
não sei se o piano teve a ver com isso, Claudius, o maldito homem moreno e alto
de cabelos lisos, Dr. Claudius, brigou com Maria e brigou com Clara. Grande
novidade, mas talvez ele estivesse bêbado e chegado em casa enquanto Maria
estava tocando o piano para Clara. Talvez ele estivesse irritado, talvez a
música tenha aumentado sua raiva. Vou escrever de improviso, se ficar ruim,
como geralmente fica, talvez eu mude, quem sabe, um dia: Maria estava tocando o
piano (neste momento me volta à mente a ideia de escrever uma carta para Sarah.
Fora desta historinha. Talvez deva parar agora e escrever pra ela).
22:20
23: 54
Nesse meio tempo escrevi a bendita carta para Sarah (não quero comentar,
isso não importa; acho que botei uns bichinhos pra correr, e ela disse que era
para fazer isso mesmo. Pronto, passou). Conversei com Cris, mas jantei sozinha
de novo. Um desses caras que transitam por aqui, um que fazia muito tempo que
não falava comigo ou com qualquer outro, me disse que queria ser ouvido, e eu
ouvi. Talvez até tenha dado um ou outro conselho.
Maria Que Se Importa.
Não sou uma inútil tão grande, ou completa. Ou esse cara deve ser mais
louco do que eu. De qualquer forma, me senti um pouco importante. Ou seja: sem
pensar em morrer. Por hoje.
Acontece que não era nada disso que eu queria falar. Queria apenas
contar da cena que imaginei: Claudius chega em casa, bêbado, bate em Maria,
bate em Clara. Em uma delas, ele a empurrou e caiu sobre o tapete; na outra, deu um
tabefe. Não consegui formular detalhes, nem em quem ele bateu primeiro. Mas sei
que aquele tabefe doeu. Doeu tanto que quase pude sentir.
Foi quase como se eu tivesse estado lá.
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