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A química em meu cérebro está mudando de novo. Achei que
tinha me libertado disso.
Mas dói. Está doendo agora.
Doendo de novo.
Em meu peito.
Preciso continuar escrevendo, até que a dor passe. Acredito
que uma hora ela vai se cansar e ir embora.
Maria Que Acredita.
Clara tem andado, diz você. Clara andando.
E será que essas pessoas vão se encontrar? pergunta você.
Mas como se encontrar, se é uma historinha que estou inventando? Confesso, por
outro lado, que penso em Clara, penso em Maria e, para meu horror, penso em
Claudius. Penso nas pessoas que habitam essa história. De alguma forma, manter
esse povo vivo me mantém viva.
Pensei em Cris hoje, falei com ela mais cedo. Ela dormiu
aqui enquanto eu escrevia a noite passada. Gosto dela.
Sei o que você está pensando. Dane-se você. Eu não gosto de
mulher. Nem de homem.
Não quero falar de sexo. Vou dizer de novo: não quero falar
de sexo.
A verdade é que, de novo, estou cansada e estou com fome.
Escrevo só pra dizer que escrevi hoje, e talvez para buscar um pouco daquela
magia que faz eu acessar esses lugares escuros dentro de mim. Podia dizer que
pensei no piano. Triste, lindo. Talvez essa história seja sobre isso. Talvez
seja sobre reencontrar aquela garotinha que ficava escutando a mãe tocar. Na
dor há esperança. Talvez fosse nisso que Maria pensasse quando tocava. E então,
respiro. Penso. Sarah disse que não era para pensar, apenas escrever.
Neste momento queria dizer que todo mundo morre no fim e
acabar esta história.
Mas mesmo assim, se eles morrem: como morrem?
Confesso que não gostaria de passar esse tempo todo contando
uma história em que o fim-destino é a morte. É o que penso agora. Como já
disse, não penso. Apenas escrevo. Jonas, Marcos, Lara. Maria, Claudius. Clara.
Estou com fome, não consigo pensar direito. Mas sei que, de alguma forma,
escrever me cura. Apenas por um dia, é verdade, mas é um dia mais perto do fim.
E talvez, quando chegar lá, descubra que existe mesmo esperança.
Não desista da vida, Clara. Ainda é cedo para morrermos.
Prometo que não vou desistir de você, garotinha.
Amo você mais do que posso dizer, mais do que você
imaginaria, se crescesse para entender o que é o amor. Amo você, Clara.
E Maria, a mãe: também amo você. Amo a sua dor, o seu
silêncio. O seu amor de mãe. Ainda há muito o que cavocar nesta história. A
única coisa que peço, e vai ser minha oração hoje à noite: não desistam antes
do milagre acontecer.
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