Sexta-feira, 8 de maio de 2015
00:37
Maria
volta ao quarto. A esta história horrível. Ao frio que voltou. Falei hoje com
Sarah e às vezes ela tem o raro dom de me deixar pior do que já estou. Vaca.
Malditos psicanalistas do inferno. Juro que pensei em matar ela e acabar com
essa dor. Mas talvez não acabasse nada e talvez – e odeio ela um pouco por isso
– todo esse lodo no qual fico algumas vezes depois que nos falamos faça parte
de um plano maior.
Tipo,
o fim da dor.
Se
é que há um fim.
O
fim que procuro e do qual fujo: o mistério da pequena Clara.
O
fim desta história toda, que corre atrás do próprio rabo, uma história
horrivelmente mal escrita que nunca dá em nada.
Mas
por algum motivo continuo escrevendo esta merda.
Li
uns trechos de um carinha chamado Bandura, que fala de motivação e uso de
diários para monitorar a si mesmo. Sei lá, pensei que minha motivação para
escrever, a motivação primeira, é me livrar da dor. A dor que fica presa no de dentro
de mim, Maria Presa Em Si Mesma. Mas também escrevo para lembrar. Essa é a
motivação segunda, acho. Depois temos os diários, que é mais ou menos isso que
faço aqui. Não que eu alimente em segredo que algum dia alguém vá ler isso
aqui. Talvez a um nível inconsciente, sei lá.
Meu
deus, Sarah, foda-se. Estou enlouquecendo, sua vaca.
Talvez
eu devesse dizer isso a ela, mas acho que dizendo aqui é como dizer para ela.
Talvez por isso, no fundo, escreva.
Então,
talvez aquele sonho-pesadelo não seja apenas um sonho, e um dia eu explique ao
mundo como é a história de Clara. Essa historiazinha que tento escrever aqui a
cada noite, ou madrugada, sempre que a dor transborda.
Maria
Transbordante.
Maria
Que Olha Pela Janela No Escuro.
De
onde acho que vi Clara brincando na pracinha pela primeira vez. Descendo pelo
escorregador. E Maria, a mãe, mamãe linda, mamãe the best of the world,
esperava ela na chegada, depois embalava ela nos balanços, assim como um dia
foi na caminha acolchoada de Clara. Maria, a mãe, que contava histórias para
sua filha Clara. Uma das duas, quem sabe as duas, talvez tivessem se tornado
escritoras. Seria um final interessante para esta história.
Me
arrepio quando escrevo isso.
Talvez
exista esperança, depois de tudo.
Respiro
fundo.
Tenho
vontade de chorar.
Depois
de tudo.
Maria
Que Olha Pela Janela.
Procurando
a princesa mais linda do mundo.
A
princesa que se perdeu no alto do castelo.
Sozinha.
Mas
ainda podemos subir lá no alto, pequena Clara.
E
vamos descer juntas.
Como
mãe e filha.
E
é então que começo a chorar.
00:54
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