Juro
que pensei em não escrever, em não escrever hoje, e se não escrevo hoje não
escrevo nunca mais. Mas nisso já estou escrevendo. Então apenas devo continuar
caminhando nesta floresta até que o clarão apareça – ele vai aparecer, sei que
vai. Vou caminhando enquanto a confusão e a dor vão ficando para trás, e sei que
elas seguem meus rastros, também caminham, feito filhas que não querem
ser largadas, não querem deixar o papai sair para trabalhar – não nos
abandone, preciso de você, gritam elas. Mas eu, eu mesmo, também preciso de você
e você, embora talvez ainda não admita, também precisa de mim. Sou o narrador a
procura de uma história e você faz parte da minha história. Talvez não queira
fazer parte, mas eu decidi que você faz parte. Chega de pedir permissão. Apenas
decidi e continuo caminhando nesta floresta: você está comigo nesta jogada.
A
minha busca, que é a busca de uma história, que bem poderia ser, pensei agora,
a busca por uma identidade, já que ainda não sei quem é você e você tampouco
sabe quem eu sou, é a minha busca por você também. Que é meu personagem, talvez
meus personagens, talvez o homem, a mulher, a irmã e a criança de quem falei
ontem, mas também não sei nada sobre eles. Talvez você seja um deles. Talvez
você seja todos eles, e a minha busca que acho ser de um é de vários. Meus
braços e pernas cansam de novo, mas preciso continuar escrevendo senão ambos
vamos sumir. Lembra aquele filme do cara que colocava bombas nos lugares de
serviço e a mulher tinha que escrever SAM sem parar, que era o nome do seu ex-namorado e que colocou a bomba sob o computador do escritório dela, sob
pena de todos explodirem? É mais ou menos isso o que estou fazendo. Não posso
parar de escrever, ou ambos vamos pelos ares. Já disse Onetti que não posso
obrigar você a continuar me lendo, mas você não pode me impedir de continuar
escrevendo, e isso faz muito sentido. A dor e a confusão vão ficando para trás,
a falta de ter um lugar no mundo também. Neste momento, escrevo do meu lugar no
mundo, da minha Pátria e cada palavra que escrevo é um tijolo a mais nesta
construção. Que tem tudo para ceder aos ventos, às tempestades que certamente
virão. Mas continuo caminhando, continuo remando, continuo escrevendo, porque é
isso que fará você se materializar na minha frente.
O
relógio, já reparou? Parece que ele aumenta de velocidade com o passar do
tempo, os minutos e os segundos vão ficando menos, como se menos fosse o tempo,
e ele é mesmo. Não deixe o tempo passar por você, passe pelo tempo, algum
professor disse, e alguém de reputação estabelecida, talvez um filósofo ou
poeta, ou poeta como todos os filósofos, deve ter dito isso antes, mas se parar
para pesquisar vamos, você e eu, sumir sem deixar vestígios.
E
agora?
Agora,
não sei. Só sei que preciso de você e preciso que não se demore muito para
aparecer, você cujo rosto ainda não conheço. Você, homem, mulher, irmã,
criança. Será que é um animal de estimação que estou procurando? Como encontrar
se não sei o que estou procurando?
Mas
eu saberei quando encontrar você. Depois de encontrar, saberei.
Como encontrar algo se não sabemos que estamos procurando? Acho que sabemos, sempre sabemos que não sabemos e vamos, persistimos. Lembrei de alguém ter dito: eu não procuro, não procuro, entende? Não sei se entendo ou se entendi, não sei. Só sei que escrever é um exercício gostoso e quando a gente não pensa, flui. Será? Acho que o seu personagem é um… Isso! Grande abraço, até. :-)
ResponderExcluirValeu, Helena, obrigado pela leitura atenta. Vou procurar meu personagem mais um pouco... agora. Abraços e vamos aos escritos de hoje!
ExcluirTalvez devêssemos parar de procurar e deixar que nos encontre, porque quando procuramos não paramos em nenhum lugar e ai nos tornamos invisíveis
ResponderExcluirBelíssima reflexão, não tinha pensado nisso. ;)
ExcluirBoa tarde. Iniciei a leitura agora e devo dizer que já me identifico com a escrita, cheia de incertezas e possibilidades. Acredito que irei gostar bastante do teu livro. Abraço.
ResponderExcluirTua colega,
Jordana Martins.
Oi, Jô. Fico feliz de te ter por aqui. É uma narrativa cheia de incertezas mesmo, então faço votos de que tu siga na busca. ;) Obrigado pela leitura. Abraço grande!
ExcluirA incerteza sempre me tem com ela. rs Certo. :) Agradeço por tu teres me apresentado à ela, para a narrativa.
ExcluirUm grande abraço!
Eu que agradeço pela leitura. A incerteza às vezes é angustiante, mas se a gente seguir caminhando, daqui a pouco ela se transforma em... outra coisa. ;) E aí, em que parte tu tá?
ExcluirOi! A incerteza nos dá muitos caminhos! Que venham os novos caminhos e que eu possa percorrê-los pela leitura.
ResponderExcluirQue baita reflexão, ou auto reflexão 🤷🏻♀️, só peço que continue escrevendo e às palavras surgirão no decorrer da narrativa, já tem o voto de confiança da sua fã cativa 😉
ResponderExcluirEscritos e leitor dependentes um do outro.
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