22:58
Sobre o que é esta história, você me pergunta.
Vai ter que continuar lendo. Porque eu também ainda não sei.
Falta pouco para terminar o dia, pensei em escrever
simplesmente “não estou a fim de escrever hoje, e não vou escrever mais nada, e
that’s it, chega de história”, mas quando vi já estava aqui escrevendo. A chuva
voltou. Quase mudei de quarto hoje, mas na última hora permaneci aqui.
O homem de cabelos negros está longe. A mulher está longe.
Eles não vêm para jantar. Clara tem que fazer a própria comida. Veja, uma
criança cozinhando. Não tem algo errado nessa cena? Diga-me, tem ou não tem? Eles
a deixaram sozinha em casa. Pode ter sido uma exceção – ou será que sempre a
deixam assim? Talvez ele seja médico, um cidadão de prestígio cujo prestígio
não pode ser abalado. Isso me faz pensar. Imagine um escândalo entre quatro
paredes e por isso mesmo mantido entre quatro paredes. Não podemos acabar com a
carreira do doutor, e desde que ele é um homem de prestígio, as pessoas podem
tolerar alguns deslizes. Ele tem uma amante? A mulher que penso ser sua cunhada
é também sua amante?
Como vê, continuo tentando montar essa história e a cada dia
ela parece mais distante de mim.
Não sei por mais quanto tempo vou aguentar escrever essa
porcaria, esse monte de palavras que ninguém vai ler. Nem você vai ler, você
vai se cansar antes de mim. Mas eu preciso lembrar o que aconteceu e como vim
parar nesta cela. Ou neste quarto, dá no mesmo. Por isso tento colocar as
imagens dessa historinha em perspectiva.
Maria Sem Saber O Que Fazer.
O relógio sumiu ou simplesmente parei de pensar nele?
A chuva parece que sumiu também.
De novo estou com fome. Acho que detectei esse padrão em
mim: escrevo sempre de noite, muitas vezes chove enquanto escrevo e, sei lá por
quê, prefiro passar um pouco de fome do que parar de escrever. Estou em busca
de mim mesma. Preciso lembrar. Não sei do que trata essa história – embora, de
novo, intua como ela termina e ainda tenho um pouco de esperança de mudar o
fim, antes do fim.
Por isso escrevo.
Mas vou parar de escrever em breve.
Estou perdendo minhas forças.
E começo a suspeitar que estou enlouquecendo também.
Enlouquecendo.
Caindo.
Dentro de mim.
23:12
Acho que estás tentando me manipular, ó Maria Que Não Vai Com As Outras E Por Isso Não Sabe O Que Fará, estou certo? Não que eu esteja me cansando, apenas me angustia um pouco perceber que não admitas o que estás a me contar. Ó, pobre Maria… Mas não vou deixar-te só - com tuas manias. Não vou! Teu leitor. E um sorriso quase maléfico desenha-se nas entrelinhas... uma história que se escreve sozinha e uma narradora que pensa que ninguém a lê. Taí, gostei! :-)
ResponderExcluir"Admitir" é uma busca, e não é tão fácil quanto parece. Acho que por isso Maria escreve. Hmm, podia começar o texto de hoje assim...:)
ExcluirDe qualquer forma, é muito legal saber que vai ter alguém aqui esperando Maria. Tenho certeza que ela - embora talvez não admita - vai curtir.
Até mais tarde, leitor. A chuva se aproxima.
Sobre o que é a história? Infelizmente já entendo sobre o que é a história, mesmo não me apetecendo, ou quem sabe eu esteja - novamente - errada. Tomara.
ResponderExcluirNo capítulo que escrevi ontem na minha história teve uma importante influência sua. Eu decidi que a narradora não é totalmente sincera com o leitor, e falei isso na maior cara de pau para o leitor, que estava mentindo para ele. Ok, mentindo talvez seja um exagero, mas contei que estava escondendo coisas. Minha talvez única leitora me deixou um comentário intrigada com essa minha afirmação, ela quer saber o que estou escondendo. Viu? Sua forma de narrar é muito interativa!
Até mais tarde escritor, aqui a chuva passou.